Democracia Braganettoniana

O novo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, mal assumiu a pasta e já demonstrou ao presidente por que "merece" o cargo: está alinhado ideologicamente ao governo (estou usando eufemismos). Em texto divulgado na terça-feira (30/03), disse que o golpe militar de 1964 deve ser "compreendido" e "celebrado".

O seguinte trecho é o foco desse artigo:

"As Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o país, enfrentando os desgastes para reorganizá-lo e garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos."

Atentem às palavras-chaves "pacificar", "garantir" e "liberdades democráticas". A partir delas é possível traçar a teoria da democracia segundo Braga Netto.

A Democracia Braganettoniana é a doutrina política que prega que um país deve ser democrático e livre, mas o método para garantir essas virtudes políticas é, digamos assim, heterodoxo. Entende-se que a sociedade está vulnerável à ameaça permanente conhecida como "comunismo". As Forças Armadas entram em cena para "resguardar o país", combatendo os "desgastes" para "reorganizar a sociedade". A "pacificação" social não está de acordo com o significado de "pacífico" presente no dicionário. É uma prática "inovadora" (tive o cuidado de não usar  "revolucionário" aqui) dos heróis fardados.

Os democratas braganettonianos entendem que vale tudo para vencer o hipotético comunismo, inclusive usar de violência real. Seria a forma de lidar com os "desgastes". Sabe-se que o comunismo matou 100 bilhões de pessoas. Não se poderia permitir que os vermelhos matassem 200 bilhões de brasileiros. Contra essa conjectural barbárie, a barbárie real. Tudo para "garantir as liberdades democráticas".

A censura oficial do regime militar, por exemplo, foi para evitar a suposta censura comunista que ocorreria. Foi uma censura democrática, criada para garantir as liberdades democráticas. "Estou te censurando para o seu bem. Nossa censura branda é para impedir a censura comunista, que é muito pior". Assim diz a doutrina da Democracia Braganettoniana.

E a tortura (inclusive de crianças) também foi mais um instrumento para garantir as liberdades democráticas. Foi usada para pacificar o país. O pau-de-arara real, concreto, democrático e garantidor de liberdades foi necessário para nos salvar dos gulags quiméricos, terríveis e totalitários. Assim diz a doutrina da Democracia Braganettoniana.

Matar e sumir com os corpos dos "comunistas" foram outras atitudes democráticas. Sabe-se que democrata de verdade tortura, mata e oculta cadáveres de totalitários. Assim diz a doutrina da Democracia Braganettoniana.