Nuvem negra
Muito antes da Covid-19 torná-la ainda mais negra, em muitos lugares do planeta Terra já havia uma nuvem escura pairando. Era possível identificar a capacidade que essa nuvem escura tinha de contaminar as sociedades com tempestades violentas de fake news. O vínculo com a verdade foi rompido.
Por não ser assinante, não pude ler a coluna do Leandro Karnal publicada no domingo no jornal Estadão. Na chamada para o conteúdo da coluna, havia uma frase: “História ensina que, de medos atuais, pode emergir um renascimento magnífico”. Creio que Karnal fazia referência aos acontecimentos na História da Europa entre os séculos 14 e 16.
O Renascimento dissipou a nuvem negra pairando naquele tempo. Houve a ruptura do feudalismo substituído pelo capitalismo. Os muros das estruturas medievais foram postos no chão por inúmeras revoluções. Elas não aconteceram pelo uso de armas. Não se viu banhos de sangue.
Essas revoluções mudaram vários segmentos das sociedades. As mais importantes foram na cultura, na economia na política e na religião. Foi o alvorecer das artes, da filosofia e da ciência. Foi um alvorecer de mentes brilhantes. Apesar da nuvem negra de agora, suas obras ainda influenciam as sociedades atuais. Serão importantes para uma nova derrubada de muros.
O Renascimento freou a influência negacionista religiosa e do misticismo que estava enraizada na cultura das sociedades. A racionalidade da ciência abriu várias frentes. Os olhos se voltaram para a natureza. Os humanos foram agraciados com a dignidade. Do pensamento renascentista nasceria o Humanismo. A obra “O Homem Vitruviano” de Leonardo Da Vinci, é a expressão do humanismo renascentista.
A Itália foi o berço do Renascimento. Dali espalhou-se pela Europa chegando às Américas. Das suas quatro fases, a Alta Renascença é reconhecida como a mais importante. Apesar de historiadores e revisionistas atuais apontarem contradições sobre o Renascimento, há o consenso de que ele mudou o mundo.
O Renascimento foi alavancado por mentes brilhantes e progressistas. Não temos nada disso atualmente. Há apenas mitos com ideais retrógrados semeados pelas ideologias. Esses ideais deixam as tempestades ainda mais perigosas e fatais. A marca do feudalismo eram os castelos. A dos mitos são os currais de extremistas.
Só como utopia a frase de Leandro Karnal é “magnífica”. Os muros levantados estão cada vez mais altos. A ciência e a cultura são inimigas que precisam ser combatidas. As crenças se transformaram em armas de uso fácil. A nuvem pairando sobre os humanos ficar ainda mais negra não é uma possiblidade. É uma certeza.