Olho por olho, dente por dente - BVIW
Dentro de uma cela magra, as grades abraçavam dezoito detentos, e mal cabiam naquele lugar desnutrido de espaço e aconchego, seis pessoas. Uma visão além do alcance. Bandeirolas de cuecas sem sexualidade, roupas que nunca saíram da loja, lençóis que parecem mais pano de chão e olhares perdidos enfeitavam o vão de seis metros quadrados. Um Carnaval concentrado sem Chiclete e Ivete, superlotação dos mascarados sociais. Uma condição degradante e sub-humana, a castração de liberdade é a punição para o indivíduo que ofendeu a ordem pública ou social. Só quem transita nessa órbita tem olhos gordos de detalhes. E por muitas vezes pensei sobre a fotografia do submundo, e não cheguei a uma racionalidade, parece que meu cérebro deu um nó. Não adianta, não vem nada que coadune com as práticas do Sistema Prisional Brasileiro. Prender para não ter um programa de ressocialização é enxugar gelo, e causar dor psicológica e física não corrige, mas atenua os fatores motivacionais para o desvio de conduta. Olho por olho, dente por dente era um princípio do Código Babilônico de Hamurabi, que consiste em causar ao agressor o mesmo sofrimento da vítima. Atrás das grades, tem o pagador de promessas, o colecionador de ossos, Hannibal, Amigo oculto, Meu nome não é Johnny, o poderoso chefão e o crime de primeiro grau. Não se trata de julgamento por crime ou perdão, mas da condição de acolhimento.