Líder do "centrão" prefere que novo chanceler não seja da "ala ideológica"

Em entrevista ao UOL Notícias, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) disse que o agora ex-chanceler Ernesto Araújo não priorizava o país, tampouco visava auxiliar "da melhor forma possível" o Brasil no combate à pandemia.

"Não tenho nada pessoal contra ele, mas, neste momento, precisávamos de um ministro que colocasse o país em primeiro lugar, tivesse uma visão para nos ajudar a superar essa pandemia da melhor forma possível. Não temos outra alternativa a não ser imunizar a nossa população", disse.

Nogueira também fez um contraste entre ser "patriota" e optar por uma "visão ideológica".

"O que espero do novo ministro? Que não tenha uma visão ideológica e, sim, patriota. Somos um celeiro de alimentos no mundo, grande exportador de matérias-primas, temos que ter uma boa relação com os EUA, a China, a União Europeia."

Nas falas do senador se encontra argumentos que evocam uma "preocupação" com a situação do Brasil. Entretanto, pode-se inferir que faz parte da natureza do chamado "centrão" a rejeição de aspectos extremistas presentes no (des) governo de Jair Bolsonaro. Enquanto o presidente encontrar sustento neste conglomerado de partidos, haverá conflitos entre a ala populista e ideológica do governo e a base parlamentar governista e fisiológica no Congresso.

O "centrão" remete a um conjunto de partidos de centro-direita. São considerados fisiológicos por estarem dispostos a negociar apoio com o governo, não importa o espectro político. Em troca de fornecerem suporte parlamentar ao poder executivo, eles exigem cargos e emendas em troca. Em suma, eles "lucram" com a democracia liberal. É o regime político que permite a existência deles e de seus ganhos.

Sim, o "centrão" fará qualquer coisa para proteger a democracia liberal. Estes partidos não querem de forma alguma o fim do sistema político que lhes proporciona vantagens, tanto pecuniárias como de outro tipo.

Assim, eles repelem qualquer tipo de extremismo antidemocrático. A ala ideológica do governo Bolsonaro é de extrema-direita, o espectro político que sonha em demolir o liberalismo e fazer as "rodas da história" rodarem para trás.

Ernesto Araújo é olavete e, portanto, um extremista de direita que rejeita a democracia liberal. Era esperado que ele fosse cair, afinal Donald Trump foi derrotado nas eleições americanas, o que tornou Ernesto ainda mais inútil do que era, pois não havia mais o grande líder para ele ser um fiel vassalo. O "centrão" já vinha pressionando pela sua saída. A gota d'água foi quando ele atacou a senadora Kátia Abreu (PP-TO) e isso visando atingir todo o Senado. O partido de Kátia e Nogueira faz parte do "centrão".

Ao acusar, pelo Twitter, a senadora de agir como lobista do 5G chinês, Ernesto atiçou a claque bolsonarista nas redes sociais. A ideia era fazer uma insinuação acusatória de que o Senado estaria nas mãos dos chineses e que por isso estava exigindo sua demissão. Trata-se de uma retórica anti-China e antiglobalização (ou "antiglobalismo"), características do populismo de direita dos EUA. Portanto, uma retórica antidemocrática que visa atingir as "elites" - cria-se aí um contraponto quimérico entre "povo" ou "representantes do povo" (Ernesto, Bolsonaro...) e a "elite política controlada pela China" (Senado, Câmara...).

Tudo pode ser entendido também como estratégia de Ernesto para mascarar a própria incompetência.

O resultado? Senadores reagiram e agora preparam impeachment do ex-chanceler. O "centrão" não vai tolerar parlapatices extremistas vindas do desgoverno Bolsonaro.