O problema eterno da memória
A reflexão sobre as coisas da vida nunca é feita sozinha. O pensamento humano sempre tende ir de momento a momento para entendimentos diferentes, interpretações diferentes, o que resulta em crescimento e amadurecimento da memória. No entanto essa parte da cognição humana se modifica ao passar do tempo, pois existe certo desapego das coisas e, a partir, não (re)lembramos tudo exatamente como correu, pois o que nos vem à mente são descrições feitas por nossos pontos de vista.
Podemos argumentar que ao longos dos anos surgiu a importância da escrita como ponto de partida para que deixássemos guardado por muito mais tempo aquilo que a memória não podia mais suportar. Desde o começo do processo de industrialização, o nível de experiências humanas foi crescendo cada vez mais rápido, o que contribuiu para que a humanidade desejasse as coisas com um imediatismo avassalador. A partir daí, as coisas passaram a ter certo valor em determinado momento em que as pessoas as possuíam, mas com o tempo esse significado passou a evaporar-se da memória.
Nada seria para durar, como diria Zygmunt Bauman. Nesse sentido, a projeção e o retorno ao passado passaram a ficar cada vez mais difíceis apenas com o uso da memória. As relações humanas se tornaram cada vez mais complexas com o desejo de progresso, logo a consciência das pessoas teve de acompanhar as mudanças com a mesma velocidade para que pudesse organizar com mais eficiências as ideias. Pode-se dizer, nesse sentido, que a memória apresenta um problema: há fidelidade integral sobre os fatos quando lembramos de algo ou é apenas algo que vem de acordo com nossa interpretação das coisas? Entendo que a lembra se liga mais facilmente às experiências próprias, logo a memória individual não é uma condição necessária para e suficiente do ato de lembrar e do reconhecimento de lembranças.
A linguagem se tornou um modo de instrumento para facilitar a rememoração dos fatos, pois se tornou uma representação mais concreta do que queremos expor, relembrar, argumentar. A escrita, a fotografia, a pintura, o cinema e outras diversas forma de linguagem (verbal e não-verbal, portanto) se aproximam melhor de um tipo de ponto de vista pessoal, mas essas lembranças pessoais podem apresentar atrativos e elementos de um único indivíduo e não a outro, embora haja a possibilidade de existirem semelhanças em meios sociais definidos e identificáveis por mais de um membro de certo grupo.
As sucessões de lembranças são explicadas pelas mudanças reproduzidas em relações com os diversos meios coletivos, pelas transformações desses meios, cada um tomado à parte e em seu conjunto. O que ocorre é a memória se basear nos fatos e nas lembranças do meio e nos fatos exteriores para as noções individuais se formarem. O problema da memória é este: não conseguir dar conta de tudo. É necessário sempre termos algo para nos apoiarmos e lembrarmos de cada situação, embora nunca se consiga rememorar integralmente cada minuto vivido.