Empatia – a arte de escutar o outro
De uma maneira bem singela, mas também bem adequada (espero), empatia é a capacidade de nos colocarmos no lugar de outrem, é a arte de sermos atenciosos, compreensivos, respeitosos e solidários com outras pessoas, participem elas diretamente de nossas vidas ou não. As atitudes empáticas podem significar uma ação que exija de nossa parte algum esforço ou mesmo algum recurso material, mas, acredite, na maioria das vezes, para sermos empáticos precisamos apenas de uma boa audição. Precisamos saber ouvir empaticamente. Isso mesmo. Ouvir o outro é uma coisa; já ouvir o outro com empatia é algo completamente diferente. A empatia exige altruísmo, dedicação, exige doar-se, exige, que por alguns instantes, deixemos o ego bem quietinho para que possamos ceder espaço à voz alheia. Há quem diga que empatia é um gesto de amor. Eu não iria tão longe. Podemos amar alguém e sermos desatentos aos sentimentos que ele expressa. Por outro lado, podemos escutar atenciosamente o que nos diz quem sequer conhecemos. Para mim, ser empático é, antes de tudo, ser atencioso. Ouvir com atenção quem nos relata suas dores e suas delícias. É possível, portanto, dizer que a empatia estabelece a distinção bastante difundida entre apenas ouvir e realmente escutar.
Concordo com Dorothy Briggs, quando diz que “empatia é ser compreendido de acordo com nosso ponto de vista. Significa que a outra pessoa entra em nosso mundo e mostra que compreende nossos sentimentos”. Entretanto, devemos ter claro que essa compreensão não significa, necessariamente, que você é obrigado a concordar com o que escuta. Não mesmo. Você pode discordar de seu interlocutor e deixar isso bem claro. Mas escute-o, atentamente. Importe-se com o que ele está lhe dizendo. Inclusive, manter-se calado depois de escutar o relato alheio é bem menos desagradável do que respondê-lo com os próprios relatos. Há entre alguns estudiosos do comportamento humano quem veja a empatia de forma negativa. Sinceramente, acho improvável alguém me convencer de que ouvir atenciosamente as pessoas é algo ruim. Porque é dessa empatia de que falo. Repito: a capacidade individual de escutar cuidadosamente o outro, auxiliando-o ou não, concordando com ele ou não, dando continuidade ao diálogo ou não.
Abaixo, descreverei algumas situações que clarearão estes argumentos.
Numa conversa entre duas colegas de trabalho (A e B), A diz:
- Estou muito chateada e preocupada com meu filho. Ele está indo muito mal na escola.
Sem pestanejar, B responde:
- Nossa! Não tenho problema nenhum com meus filhos. São todos muito estudiosos e inteligentes. O mais velho fica muito chateado quando não tira dez.
Notem como a aflição de A fora completamente ignorada por B. Mal ouviu o lamento, B engatou falando de si mesma, expondo características admiráveis dos filhos e pouco se importando ou talvez nem percebendo se isso contribuiria para o baixo astral da colega. Se fosse capaz de ouvir empaticamente e desejasse intervir, B teria dito algo do tipo:
- Nossa! Imagino o quanto isso deve estar lhe chateando. De fato, não é nada agradável lidar com o baixo desempenho escolar dos nossos filhos.
Assim, B se mostraria atenciosa e compreensiva e A não se sentiria ignorada nas suas preocupações. Caso conviesse, B ainda poderia dizer:
- Venha aqui, vamos discutir melhor isso. Quem sabe encontraremos um meio de lhe auxiliar.
Um trio de amigos (C, D e E) conversava sobre variados assuntos, quando C relata:
- Cara, minhas férias foram fantásticas. Viajei com a família para um paraíso na terra. Pense num lugar bonito!
Ao que D responde:
- Putz! Minhas férias foram um fracasso. Choveu dia e noite. As crianças ficaram gripadas. Sem falar que o voo de volta foi cancelado e tivemos que ficar lá mais um dia. Desastre total!
Em seguida, E emenda:
- Nem viajei. Tô sem grana.
Neste exemplo, C imaginava que alguém iria querer saber o nome do lugar paradisíaco visitado por ele. Assim, ele contaria outros detalhes das suas férias e compartilharia com os amigos a maravilhosa experiência que vivenciara. Mas também nesse caso a empatia passou longe.
Este outro exemplo é clássico.
Com certa irritação e abatimento, F diz:
- Ando numa insônia terrível. Não dormi nada, essa noite.
De pronto, G responde:
- Pois eu dormi que nem uma pedra. Quase perco a hora.
Aqui, se fosse empático, G teria dito:
- Sinto muito por você. Insônia né de deus não. Isso é recorrente? Você já pensou em investigar a origem dessa falta de sono?
Último caso.
H diz a I:
- Tô com uma dor de cabeça terrível.
- Isso não é nada, dispara I. Se você soubesse como estou aqui, não reclamaria de uma dorzinha de cabeça.
As situações acima mostram como temos dificuldade de sermos empáticos. Na menor oportunidade, lá estamos nós deixando nosso ego florescer diante das fragilidades e/ou das virtudes alheias. O que o outro disse de si não interessa, importante é o que tenho a falar de mim. O meu dilema é sempre maior ou mais importante do que o dilema dos outros.
Mas não nos desesperemos – há boas notícias. A empatia é algo que podemos aprender. A arte é uma habilidade culturalmente adquirida, ninguém nasce artista. Com a arte da empatia não é diferente. Basta praticá-la. Para tanto, precisamos ouvir de verdade o que nos dizem e dar uma resposta sobre aquele que disse e não sobre nós mesmos. Exercitemos a outridade, ou seja, a capacidade de escutar, de se colocar no lugar do outro. Não é fácil, mas é preciso. Ou seremos eternamente um mundo de ególatras.