MINHA MÃE, UMA GUERREIRA

MINHA MÃE, UMA GUERREIRA

As lembranças que tenho de minha mãe a mostram uma mulher altruísta, guerreira, dedicada, cuidadosa, aquela espécie de anjo sempre atarefado e pensando somente nos outros e esquecido de si. Ela cuidava de cinco filhos, da casa, dos afazeres domésticos, de papai, e ainda assim, com tantas tarefas, trabalhava em casa para ajudar no orçamento familiar. Bordava, compondo no bastidor as peças mais lindas e criativas, esforçava-se como manicure e, mesmo com tanto labor, encontrava um restinho de tempo para sua feminilidade.

Cinco crianças, cada qual com a própria personalidade, sonhos, traquinagens e vontades, elevaram aos transbordos as emoções de minha mãe. Junte a tudo isso as doenças da infância tais como coqueluche, gripe, resfriados, febres repentinas, sarampo e outras tantas que, à época, eram chamadas de doenças de menino apesar de não escolher o gênero quando surgiam. Imaginem sua correria, o nervosismo, os remédios caseiros por ela preparados, os chás, as benzições a que recorria em alguns momentos, as noites mal dormidas, as lágrimas derramadas, o temor de algo pior acontecer caso alguma enfermidade alçasse outros patamares muito além das mezinhas ensinadas por minha avó e pelas vizinhas.

Por essas e várias virtudes eu a recordo como uma guerreira, ela sim empoderada - embora essa palavra não existisse na época -, a brava lutadora capaz de vencer os Golias da vida ou brigar contra eles enquanto pudesse e resistir tentando caso perdesse uma batalha. Pois a guerra do viver cotidiano permanecia dia após dia, mamãe jamais poderia desistir. Ela sabia disso, entendia que seus filhos necessitavam se alimentar, de vestimentas e de educação, de ensinamentos maternos para o enfrentamento do mundo e dos conhecimentos escolares com vistas a um futuro melhor. Mas nada era fácil.

Meu pai era comerciante e tínhamos, a princípio, um viver equilibrado, razoável, mas quando minha mãe teve que fazer uma cesariana, caríssima naquele tempo - aliás, ela foi a primeira mulher a submeter-se a tal procedimento em nossa cidade, uma verdadeira revolução médica recém chegada ao município -, ele precisou vender tudo, desfazer-se do pequeno comércio para pagar a cirurgia. Virou tudo de cabeça para baixo.

Minha mãe, semelhante a um general, foi à luta com meu pai, seu comandante e, batalha após batalha, logrou nos educar da melhor forma possível. E conseguiu. Fui aprovado no primeiro e muito difícil concurso público a que me submeti, o do Banco do Brasil, sem cursinho preparatório, estudando após oito, nove horas de trabalho e quando terminava a última aula lá pelas dez da noite, caminhando mais de três quilômetros do colégio estadual à casa onde morávamos, para, com outros abnegados sonhadores, ir pela madrugada aprendendo sobre conhecimentos gerais, juros sobre juros, matemática, português, etc. E nos nos fins de semana fazia o curso de datilografia, que, se bem tivesse duração de três meses, pedi à professora para ajudar-me a conclui-lo em apenas um (e assim fiz, pela graça de Deus!). Meus demais irmãos também enveredaram por destinos bem sucedidos, tudo principalmente, abaixo de Deus, graças aos hercúleos esforços e dedicação de minha mãe junto com meu pai. Uma guerreira!

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 28/03/2021
Código do texto: T7217990
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