Pelé? Por que Pelé?
1. O nome é Estádio Jornalista Mário Filho, e temos conversado. Por que Pelé ao invés de Mário? Não entendi. Não concordo que se rebatize o Maracanã lhe dando o nome de Estádio Rei Pelé. E vou dizer porquê.
2. Olha, o senhor Edson Arantes do Nascimento nem carioca é. E o Maraca, o Pão de Açucar e o Cristo Redentor são a cara do Rio de Janeiro.
Pelé é mineiro de Três Corações e se tornou o maior jogador do mundo jogando, sempre e sempre, nos gramados paulistas.
Homenagei-se o Rei sem menospresar um dos seus maiores súditos, o jornalista esportivo Mário Filho, morto em 17 de setembro de 1966.
3. Existirão, claro, os que, imediatamente, dirão: - Oh, seu cronista, o Mário Filho também não era carioca, mas pernambucano, nascido no Recife no dia 3 de junho de 1908.
Tudo bem. Creio que, volvidos tantos anos, poucos da nova geração de jornalistas e cartolas saberão dizer por que o Maracanã, antes Estádio Municipal, recebeu o nome do Mário.
4. Atenção. Não venham dizer que a escolha do nome, Mário Filho, deveu-se ao prestígio de seu irmão, o irretocável Nelson Rodrigues, respeitado, inclusive, na crônica esportiva dos anos 1950.
Não, não há notícias de que tal tenha acontecido, apesar do Nelson assinar matérias esportivas no poderoso jornal O Globo. É dele a célebre frase: "No Maracanã se vaia até o minuto de silêncio".
5. Pelo relato histórico, digno de absoluta credibilidade, ao estádio foi dado o nome de Mário Filho pelo trabalho profícuo e corajoso desse jornalista na implantação e construção do Maraca.
Teria se juntado ao prefeito do Rio, Marechal Ângelo Mendes de Morais na sua decisão de dar aos cariocas um estádio que se assemelhasse a um templo dos deuses do futebol mundial.
O marechal teria enfretado o "veto" de um dos parlamentares mais aguerridos da Guanabara, o deputado Carlos Lacerda, dono de uma oratória contundente e irresistível.
6. Vejam bem. Minha intensão não é desprestigiar o Pelé. Quem sou eu, primo? Para mim ele continua sendo o que, numa de suas belíssimas crônicas, o poeta Carlos Drummond de Andrade chamou: "Pelé, o mágico".
Também autor dessa sapiente frase: "O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé". - (in "Quando é dia de futebol").
7. Se prosperasse a ideia de mudar o nome, minha sugestão é que se dê ao Maracanã o nome de Mané Garrincha ou o nome de Waldir Pereira, o genial Didi; ambos cariocas; ambos deuses das multidões nos estádios do mundo.
8. Ainda sobre Garrincha, vejam o que escreveu Drummond: "O moço do coração simples estava à beira da estrada vendo passarinho. Passou o destino, bateu-lhe no ombro e disse: - Vai brincar. - Eu estou brincando, disse o rapaz. - Vai brincar com os pés e com as pernas, pois para isso nasceste".
Mané seguiu o conselho do destino e virou, com suas pernas tortas, um dos maiores jogadores de futebol do mundo. "Garrincha, o encantador", na prosa de Carlos Drummond de Andrade.
9. E o mestre Didi? Um maestro em campo. Com a sutileza do seus passes, deixava Ademir Menezes, Vavá e Pelé na "cara do gol".
Um jogador que tinha orgulho de suas chuteiras (todas pretas), calçando
um bailarino dos gramados.
O saudoso jornalista Armando Nogueira (1927-2010), em sua crônica do dia 21 de janeiro de 1996, não hesitou em afirmar que Didi tratava com "ternura" suas chuteiras, "humildes parceiras de luta". Exemplo a ser seguido.
10. Por que Pelé? Se consultado, garanto que o Rei recusaria a homenagem.
Querem arrancar o nome de Mário Filho do Maracanã, faça-o pondo-lhe o nome de Garrincha, "o poeta do drible", segundo Armando Nogueira (in "O Canto dos meus amores).
Ou o nome de Didi, o criador de um dos lances mais lindos no futebol: a folha seca. Pensem, senhores, antes de fazerem asneira, contrariando a história.
1. O nome é Estádio Jornalista Mário Filho, e temos conversado. Por que Pelé ao invés de Mário? Não entendi. Não concordo que se rebatize o Maracanã lhe dando o nome de Estádio Rei Pelé. E vou dizer porquê.
2. Olha, o senhor Edson Arantes do Nascimento nem carioca é. E o Maraca, o Pão de Açucar e o Cristo Redentor são a cara do Rio de Janeiro.
Pelé é mineiro de Três Corações e se tornou o maior jogador do mundo jogando, sempre e sempre, nos gramados paulistas.
Homenagei-se o Rei sem menospresar um dos seus maiores súditos, o jornalista esportivo Mário Filho, morto em 17 de setembro de 1966.
3. Existirão, claro, os que, imediatamente, dirão: - Oh, seu cronista, o Mário Filho também não era carioca, mas pernambucano, nascido no Recife no dia 3 de junho de 1908.
Tudo bem. Creio que, volvidos tantos anos, poucos da nova geração de jornalistas e cartolas saberão dizer por que o Maracanã, antes Estádio Municipal, recebeu o nome do Mário.
4. Atenção. Não venham dizer que a escolha do nome, Mário Filho, deveu-se ao prestígio de seu irmão, o irretocável Nelson Rodrigues, respeitado, inclusive, na crônica esportiva dos anos 1950.
Não, não há notícias de que tal tenha acontecido, apesar do Nelson assinar matérias esportivas no poderoso jornal O Globo. É dele a célebre frase: "No Maracanã se vaia até o minuto de silêncio".
5. Pelo relato histórico, digno de absoluta credibilidade, ao estádio foi dado o nome de Mário Filho pelo trabalho profícuo e corajoso desse jornalista na implantação e construção do Maraca.
Teria se juntado ao prefeito do Rio, Marechal Ângelo Mendes de Morais na sua decisão de dar aos cariocas um estádio que se assemelhasse a um templo dos deuses do futebol mundial.
O marechal teria enfretado o "veto" de um dos parlamentares mais aguerridos da Guanabara, o deputado Carlos Lacerda, dono de uma oratória contundente e irresistível.
6. Vejam bem. Minha intensão não é desprestigiar o Pelé. Quem sou eu, primo? Para mim ele continua sendo o que, numa de suas belíssimas crônicas, o poeta Carlos Drummond de Andrade chamou: "Pelé, o mágico".
Também autor dessa sapiente frase: "O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé". - (in "Quando é dia de futebol").
7. Se prosperasse a ideia de mudar o nome, minha sugestão é que se dê ao Maracanã o nome de Mané Garrincha ou o nome de Waldir Pereira, o genial Didi; ambos cariocas; ambos deuses das multidões nos estádios do mundo.
8. Ainda sobre Garrincha, vejam o que escreveu Drummond: "O moço do coração simples estava à beira da estrada vendo passarinho. Passou o destino, bateu-lhe no ombro e disse: - Vai brincar. - Eu estou brincando, disse o rapaz. - Vai brincar com os pés e com as pernas, pois para isso nasceste".
Mané seguiu o conselho do destino e virou, com suas pernas tortas, um dos maiores jogadores de futebol do mundo. "Garrincha, o encantador", na prosa de Carlos Drummond de Andrade.
9. E o mestre Didi? Um maestro em campo. Com a sutileza do seus passes, deixava Ademir Menezes, Vavá e Pelé na "cara do gol".
Um jogador que tinha orgulho de suas chuteiras (todas pretas), calçando
um bailarino dos gramados.
O saudoso jornalista Armando Nogueira (1927-2010), em sua crônica do dia 21 de janeiro de 1996, não hesitou em afirmar que Didi tratava com "ternura" suas chuteiras, "humildes parceiras de luta". Exemplo a ser seguido.
10. Por que Pelé? Se consultado, garanto que o Rei recusaria a homenagem.
Querem arrancar o nome de Mário Filho do Maracanã, faça-o pondo-lhe o nome de Garrincha, "o poeta do drible", segundo Armando Nogueira (in "O Canto dos meus amores).
Ou o nome de Didi, o criador de um dos lances mais lindos no futebol: a folha seca. Pensem, senhores, antes de fazerem asneira, contrariando a história.