Minha adolescência
Passei parte da minha adolescência numa cidadezinha do interior, com poucos habitantes, e tão pequena que só possuía duas ruas, uma passava pela lateral do cemitério, e a outra acompanhava o rio que cortava o vilarejo pelo meio, onde se erguia a Igreja, local de reunião dos habitantes aos domingos e feriados, vindos dos sítios da região, alguns pertos, outros mais distantes, do centro do município. Só havia uma linha de ônibus que oferecia seus serviços duas vezes ao dia. Era uma velha jardineira que fazia o trajeto ligando o município a capital. Lá, havia pouquíssimos automóveis que disputavam o direito de ir e vir, com cavalos e bois, transportes mais usados, pela pequena população.
No fim da rua principal havia um grupo escolar, rodeado por algumas árvores de mangueiras, que funcionava em três períodos, manhã, tarde e noite.
O período noturno era destinado aos adultos, que vinham das roças da região, ávidos por aprender a ler e escrever.
No recreio dos períodos diurnos, as crianças, e jovens adolescente brincavam de jogar bolinha de gude, rodar pião, bafo (com figurinhas de jogadores de futebol), e as meninas, jogavam peteca, queimada, ou pulavam corda, ou amarelinha.
O pátio em chão de terra, assim como as ruas da cidade, não havia asfalto por lá!
Tantos as meninas, como os meninos as vezes arranjavam uma briga, a diferença é que os meninos resolviam seus embates, através de socos, e pontapés, e pouco choravam, enquanto as meninas puxavam os cabelos uma das outras, e salvo algumas exceções, armavam uma choradeira danada.
Perdi a conta de quantas vezes fui parar na diretoria, algumas vezes sem culpa, mas, mesmo sabendo quem foi o autor delito, não podia indicar o culpado, entregar o outro naquela época estava fora de cogitação, diminuiria o meu prestígio ; nós, os mais velhos éramos terríveis.
Depois das aulas os meninos se reuniam na beira do rio, onde havia um campinho improvisado de futebol, todo gramado, para jogar bola e depois no final das partidas, bem suados, íamos dar uns mergulhos. Os mais velhos faziam brincadeiras perigosas com os menores, jogando-os, de roupa e tudo, no rio, independente se sabiam nadar ou não, quem fosse jogado tinha que se virar, aprender a nadar na marra. Nada abalava nosso humor, éramos felizes, e muito...
Namoro naquela época, se existia, eram discretos e platônicos, entre os meninos e meninas da turma, pegar na mão ou um selinho (leve beijo de boca fechada) era a glória.
Infelizmente, me juntei com a turma do ""fundão da escola, os meninos mais adultos, e um dia tiveram a “brilhante ideia” de desligar a luz da escola no período noturno, cortamos os fios, foi um alvoroço. Fomos descobertos, e convidados a nos retirar da escola. Minha avó, muito triste, me trouxe para a capital, ela sabia que eu não poderia ficar sem estudar, e lá eu não tinha mais nenhuma chance, só havia uma escola, e a diretora não ia voltar atrás.
Senti o impacto da mudança, a capital era fria e nada hospitaleira, mas pra frente é que se anda, disse minha avó, e as lembranças daquela época me fortalecem até hoje, no enfrentamento dos desafios que a vida nos propõe.