O maravilhoso país das maravilhas do Bolsonaro
Se não fosse suficientemente ruim para o psicológico coletivo batermos mais um recorde no dia de ontem, ao chegarmos a 3.251 mortes de cidadãos por coronavírus nas últimas 24 horas, ainda tivemos que assistir estarrecidos – bom, eu ainda fico estarrecida com a sem noção deste senhor que ocupa a cadeira da Presidência da República de nossa frágil nação, de querer soltar seus impropérios em nossos ouvidos tão cansados de notícias ruins, o presidente fazer um pronunciamento fantasioso e mentiroso. Sério. Eu acho que Bolsonaro caiu na toca do coelho igual Alice, no entanto, ele caiu no País dos Abomináveis.
À semelhança de Darkseid, o presidente quer ativar a equação antivida e aniquilar todo ser vivo que há em nosso país, quiçá, do mundo (o brasileiro está sendo mal visto no mundo por causas das variantes do coronavírus, o que impede viagens ao exterior, como se alguém tivesse dinheiro para ir na esquina) – desculpe a referência, mas o SnyderCut ainda está gerando os seus efeitos de me deixar extasiada após o espetáculo de um filme incrível, mesmo com suas 4 horas de duração e temos tido poucas oportunidades de sentir um pouco de felicidade. A resiliência nunca foi tão necessária em nossos dias e tão difícil de praticar.
O discurso do presidente em rede nacional de rádio e televisão foi esdrúxulo. Ele relacionou ações fantasiosas do governo para o combate da contaminação e aquisição das vacinas, afirmando estão garantidas 500 milhões de doses até o fim do ano. Todavia, o que nós, brasileiros, vimos ao longo de 12 meses de pandemia foi Bolsonaro levantar dúvidas sobre a eficácia da vacina desenvolvida pelo Butantan, em parceria com o laboratório chinês, Sinovac. Ele chamou-a de “vachina”, com deboche e disse que não compraria a vacina do Dória, o governador de São Paulo. Porém, como numa virada dramática, ao discursar ontem disse que sempre foi a favor da vacina (será ainda o efeito Lula sobre o presidente? eis a questão...).
O mesmo Bolsonaro que rejeitou a compra de 70 milhões de doses de vacinas do laboratório Pfizer em junho do ano passado por não concordar com os termos do contrato que não se responsabilizava pelos efeitos colaterais – o bolsonarismo não veio com a bula e os efeitos colaterais são sentido como um tsunami por todos os brasileiros ou a parte que ainda se indigna com o desrespeito à vida humana. O mesmo Bolsonaro que disse que a pressa por vacinas não se justificava e que os vendedores é que deveria vir ao país oferecê-las, o que não corresponde a realidade, em que estamos mendigando vacinas – os governadores, no caso. O mesmo Bolsonaro que disse que quem tomasse vacinas poderia virar jacarés. A lista é extensa, já deu para entendermos os absurdos que saíram do Chefe de Estado e Governo da nossa República das Maravilhas.
O curioso é que ontem, mais cedo, o país atingiu o recorde de 3.251 mortes de Covid-19 em 24 horas e o Ministério da Saúde reduziu, pela sexta vez, a previsão de entregas das doses de vacina para o próximo mês. É um descaso total. Aliás, o comando da pasta foi trocado, mas dificilmente veremos alguma mudança, pois a equipe é a mesma, composto por militares e o médico cardiologista, Marcelo Queiroga, que assumiu oficialmente a pasta ontem, já afirmou que seguirá a política de saúde do governo. Ou seja, a alegria de finalmente ter um médico como ministro da saúde, após longo oito meses de um ministro general, especialista em logística, que não conseguiu provar a que veio, não durou cinco minutos de pronunciamento dele em frente a pasta. Enfim...
Em tom diferente do que vinha adotando nos últimos pronunciamentos, o presidente abriu sua fala falando dos novos desafios frente as variantes da Covid-19 no país e se solidarizou com as famílias que perderam seus entes queridos. Mesmo afirmando que os dois desafios do governo eram o vírus e o desemprego, o governo não conseguiu combater nem e nem o outro. O vírus já levou quase 300 mil brasileiros e o desemprego bate recordes. Outra inverdade exposta pelo presidente foi afirmar que somos o 6º país na vacinação, quando na verdade somos o 46º no ranking mundial.
Claro que o discurso repercutiu muito mal, sobretudo entre o meio político. Vários políticos se manifestaram condenando as inverdades apresentadas pelo presidente. Teve panelaço em todo o país na hora do pronunciamento. Faltou panela para expressar toda a indignação em face desse desgoverno. Se Bolsonaro não gostou de ser chamado de pequi roído, caberia ser chamado de Rainha Vermelha do País das Maravilhas ao fazer com que quiséssemos cortar nossas cabeças ao ouvi-lo falar.