A TRISTEZA TEM COR?
Me pergunto: - Será a solidão, o desprezo e a decepção possuem luz?
Seu eu pudesse arriscar, diria, talvez com um pouquinho de medo de errar, que esses sentimentos devem, sim, possuir luz própria, e eu representaria suas sensações segurando o lápis de cor cinza em minha mão esquerda. Um cinza bem forte e escuro. Sim, penso que seria esse lápis o ideal dentre aqueles doze da caixa que eu usaria para colorir a tristeza.
Talvez se existisse um lápis, que não fosse o preto, mas algum que pudesse representar a ausência de cor, talvez, só talvez, pudesse ser ele. Cientificamente falando, eu sei que preto é a ausência de cor, já que ele não reflete a luz e uma cor só “nasce” quando a luz é refletida... Mas, como esse lápis de cor não existe, pelo menos por enquanto, algo me diz, talvez seja meu coração, que a decepção pode melhor ser representada pelos tons mais opacos de bege.
Já o desprezo, acredito que eu usaria o lápis de cor amarelo, aquele tom bem fraco, fosco, um pouco morto. Algo que quase não se pode ver, mas está lá para sentir. É a flor que se desprende e cai ao chão e conforme o vento toca os lados de suas pétalas é conduzida sempre para o nível mais baixo dos sentimentos.
Com a solidão eu tendo a me afastar, pelo menos nessa fase exordial, de alguma cor específica. Penso que pode ser representada com uma translucidez despolida, quase, mas não toda, transparente. Como se soubesse da existência dela dentro do seu ser, você pode senti-la, e pode até tocá-la, se quiser, mas como não tem mais forças para continuar, você deixa estar e só continua a vê-la sorrir de volta no espelho, dentro de seus olhos tristes translúcidos e despolidos...
No desenho, você se dá as costas. Se vira, abre a porta e volta a viver mais um dia sozinho, mesmo estando arrodeado de pessoas que fingem se importar, mas que estão preocupadas demais aparentando e procurando alguma coisa para fazer que seja importante, mas que no final são apenas vários e enormes espaços desocupados e vazios.
E assim a gente segue em frente, esperando que os ponteiros do relógio se adiantem com maior rapidez para que o dia termine logo e que a noite seja eterna, porque é só de noite que se consegue esconder essas coisas sem que o esforço empreendido nos leve à completa exaustão existencial.