Há um mendigo na lixeira
No meio da praça central um rato saiu do buraco.
Correu pela calçada e entrou na lixeira.
Encontrou um homem!!
No centro velho, as calçadas são o leito de um mosaico social onde a loucura, drogas e álcool fazem coro com a cruel e imoral concentração de renda. Cacos de vida são fragmentos de um todo cujas peças não encontram par, a solidão é onde repousa cada olhar. Pela região central rostos anônimos são rostos sem gente. Nos primeiros tijolos da pirâmide socioeconômica, onde as raízes tocam o solo, pessoas se escondem por traz de caixas de papelão, jornais e trapos. Vê-se embaixo das marquises e fachadas de diversas matizes arquitetônicas, dia e noite, desalentados se abrigarem.
O dinheiro, se concentrado, não serve para resolver tal equação.
É necessário encurtar a distância entre o luxo e o lixo.
Da Praça Patriarca à Rua 15 de novembro, a Rua Direita sintetiza com louvor a mazela social.
Do inicio ao fim, lojas de departamento, bancos de dinheiro e semblantes carregados de pressa, o capital tem hora marcada. Pelo caminho o odor ácido de ureia carcome das narinas a mucosa. Os sem teto que ali habitam dormem no chão de pedra portuguesa, sem quarto, sem sala e sem banheiro. O odor só não é mais corrosivo que a indiferença com que a vida lhes trata.
Por ali...
Da praça, um rato saiu do buraco.
Correu pela calçada, entrou na lixeira.
Dentro, um homem.
Um Homo mendicus.
Na praça,
À margem,
Um marginal.
Ele
fuça na lixeira.
Tira nacos e mastiga.
Come do lixo a sociedade.
Gladyston Costa