Senhor: livrai-me da tentação, mas não agora!
Na tradição cristã medieval talvez o filósofo que tenha desenvolvido uma visão bastante pessimista do ser humano foi Aurélio Agostinho – mais conhecido como Santo Agostinho (354 – 430 despois de Cristo). Para Santo Agostinho, o intelecto humano, através da racionalidade, não consegue exercer com eficiência o controle sobre a conduta moral do corpo. A racionalidade moral da alma quase sempre fraqueja diante das “vontades da carne”(dos desejos do corpo). É daí que advém toda a perdição do ser humano; ou aquilo que o filósofo cristão irá chamar de “o pecado da carne”. Santo Agostinho antecipou toda a problemática do “pecado da carne” e seu elemento transgressor na constituição da moral humana, ou seja, a questão do desejo do corpo como responsável por toda dissolução da moral. Amante das mulheres, ele sabia o quanto a beleza física delas corrompia e dilacerava qualquer fundamento moral no homem. Vejamos como o Santo filósofo em seu livro, Confissões, demonstra as causas mais comuns do pecado: “O ouro, a prata, os corpos belos e todas as coisas que são dotadas dum certo atrativo. O prazer de conveniência que se sente no contato da carne influi vivamente. Cada um dos outros sentidos encontra nos corpos uma modalidade que lhes corresponde”. Mais adiante confessa o Santo: “a vida neste mundo seduz por causa duma certa medida de beleza que lhe é própria, e da harmonia que tem com todas as formosuras terrenas. Por estes motivos e outros semelhantes, comete-se o pecado...”. Para o Santo filósofo, “o pecado da carne” resulta das paixões ou vontades do corpo e isso nos impede de ter uma autonomia moral. Mesmo após convertido ao cristianismo, já Bispo da Igreja, ele ainda era perturbado pelo desejo sexual em relação as mulheres. É sabido que o filósofo Agostinho rezava à Deus para que o livrasse do desejo da carne, mas ao mesmo tempo pedia ao próprio Deus que adiasse tal pedido: livrai-me Senhor de tamanha tentação, “mas não agora”. Pobre Agostinho, mesmo depois de convertido a castidade, lutou com fé para se afastar dos desejos da carne. Seu corpo agonizava por luxúria. A beleza feminina era a sua fraqueza; o corpo da mulher era o seu “pecado” e sua fragilidade moral. A castidade parece impossível. Oremos para que o desejo sexual pela mulher não nos faça cair em tentação, “mas não agora”. Amém!