POETA NESTOR TANGERKNI
ZÉ BRASILIENSE
– UM OUTRO PSEUDÔNIMO DE NESTOR TANGERINI
Nelson Marzullo Tangerini
Quando, na adolescência, comecei a escrever e a demonstrar a minha paixão pelo jornalismo e pelas letras, ouvi, de alguns familiares e amigos, que eu estava querendo imitar meu pai, Nestor Tangerini.
Não sei o que a família pensava para mim, no futuro - médico?, militar?, matemático? - mas, com o andar da carruagem, certamente, não viria a ser o que eles desejavam para mim.
Todos se preocupavam comigo, quando eu estava recuperando a obra deixada por Nestor Tangerini: letras de músicas, sonetos, trovas, caricaturas, crônicas e esquetes teatrais, textos estes que poderiam se perder para sempre.
Fiz exposições de suas caricaturas cubistas no Rio de Janeiro, RJ, em Juiz de Fora, MG, e Piracicaba, SP.
Ouvi, portanto, algumas pessoas sem o mínimo de sensibilidade ou respeito dizerem que eu vivia do passado ou que eu devia esquecer meu pai. Enfim, conselhos que jamais ouvi. Segui apenas os conselhos da Dinah, minha mãe, sua esposa e fã, de que eu devia salvar sua obra e sua memória, e os bons conselhos de seus amigos, como Mário Lago, Aldo Cabral, Herivelto Martins ou Djalma Bittencourt, da SBAT. E prossegui em meu caminho, com o meu trabalho sério de memorialista, com a “ideia fixa” (disseram-me isto) de que seria um escritor.
Acho que essas pessoas, depois de tantas estrelas na família, achavam que “santo de casa não faz milagre”.
E eis-me aqui, apagando o fogo de um grande incêndio, ou melhor, salvando textos de meu pai e cuidando da memória de Antônia Marzullo, minha avó materna, atriz de teatro, tv e cinema, enquanto me dedico a escrever e a publicar meus próprios textos.
Em certos momentos, posso até parecer com ele, por ser jornalista, escritor, poeta, compositor e professor de língua portuguesa. Mas meu trabalho, no capítulo da poesia, está mais próximo de Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade. Ou de Alexandre O´Neill. Não escrevo sonetos decassílabos nem alexandrinos. A universalidade de Drummond me tocou mais profundamente a alma: “Eu também já fui brasileiro”. Também não sou caricaturista ou teatrólogo, muito embora o teatro e a música sejam igualmente duas de minhas paixões.
Outra coisa: não concordo muitas vezes com os seus ideais políticos, embora também não seja getulista – e não poderia sê-lo, depois que a “mãe dos pobres e pai dos ricos” entregou Olga aos nazistas ou confinou Graciliano Ramos na Ilha Grande, no litoral do RJ.
Enfim, é o que veremos no soneto inédito abaixo, escrito com o pseudônimo Zé Brasilense e jamais publicado:
A ESSE SUBPOVO
Aos que desejam a volta da oligarquia Vargas e seus sequazes
Povo de analfabetos e inconscientes,
escória de fanáticos minados!
Povo de vagabundos e impudentes,
de seres desprezíveis, de safados!
Povo de brasileiros deslavados,
que, contra a Pátria, vota em delinquentes!
Povo de salafrários, de tarados,
que aplaude o crime e os atos indecentes!
Povo de vis quadrúpedes e ateus!
- severamente a maldição de Deus
te caia em cima, te fustigue e abata!
E que tão cedo a morte não me tome,
para que eu chegue a ver-te em plena fome
- e trabalhando ao jugo da chibata!
De certa forma, em alguns momentos do soneto concordo com a crítica do poeta em questão, quanto a oligarquia Vargas, que se parece muito com a atual oligarquia, quando Bolsonaro + filhos + militares se instalaram em altos escalões do governo, a ponto de todos se blindarem. O gado descerebrado, alienado e fundamentalista, viaja alegre nessa loucura em que o país está mergulhado.
Enfim, hoje, tenho provado que vivo entre a obra de meu pai e a memória de minha avó, o que acho muito natural, e meus próprios textos, publicados nos livros Paulicea (Ainda) Desvairada – Uma declaração de amor a São Paulo e sua gente”, “Cidadão do Mundo” (a partir de um ideal de Sócrates - e também influenciado pelos ideais da Anistia Internacional, quando, na entidade, fiz trabalho voluntário) e “O professor e o poeta – Cartas de Carlos Drummond de Andrade a Nelson Marzullo Tangerini”.
Desejo, sinceramente, que o povo acorde, que reflita sobre a m que fez, que tenha moradia humana e segura, que tenha alimento suficiente para viver uma vida longa e saudável e que vença a Covid 19.
E mais: Deixem o memorialista trabalhar em paz.