EXAGEROS CONSAGRADOS
Prof. Antônio de Oliveira
Do grego, hyper, além, e ballein, lançar, passando pelo latim,hipérbole.Figura retórica que engrandece ou diminui exageradamente a realidade ou a verdade das coisas.Exagero comumente aceito, desde que tomado em sentido figurado. Desaba um dilúvio,em vez de chove copiosamente. Morri de ódio. Chama-se hiperbolismo o emprego abusivo das hipérboles literárias. Exageropara mais denomina-se auxese: Esse gigante. “Já disse isso mil vezes.”Exagero para menos, geralmente pejorativo: Esse anão. “Esse aborto da natureza.” Nesse caso, o nome é tapinose.
Hoje em dia, em vez de Mil e uma Noites se fala:Mil e uma utilidades, Mil cores, Mil coisas. E isso não parece exagero. Em Sapiens, o autor, Yuval Noah Harari, lembraque podemos ir ao supermercado e escolher comer milpratos diferentes. Podemos visitar mil lugares incríveis. O exagero linguístico tornou-se realidade. Mas nem por isso, continua o autor, esse progresso nos deixa mais felizes. Dispomos de mil pratos, mas os consumimos às pressas, diante do televisor; visitamos mil lugares mas não nos desprendemos do nosso smartphone...Harari indaga se Neil Armstrong, cujos pés deixaram intacta sua marca na Lua sem vento, foi mais feliz que os caçadores-coletores, anônimos, que há trinta mil anos deixaram suas marcas de mão em uma parede na caverna de Chauvet.
Os historiadores descrevem, narram a história. Não se perguntam se os cidadãos desta ou daquela era, deste ou daquele lugar, foram ou têm sido mais felizes que os seus antepassados. Programas ideológicos e políticos sinalizam o bem-estar do cidadão. No entanto, indivíduos padecemde depressão, em relação ao seu passado, de estresse no presente e de ansiedade em relação ao futuro. A soma de prazeres não constitui felicidade. Pode ser um contínuo quero mais. Somente a paz interior sedimenta nosso desejo de felicidade. Sem hipérboles... A não ser no caso da pandemia atual, cujos iniciadores não mentem...