A rua do cemitério
Era domingo, final da tarde, estava com minhas duas filhas, uma no colo e outra que caminhava ao meu lado, segurando minha mão, enquanto descíamos a rua do cemitério.
O silêncio era ensurdecedor.
Sabe aquele frio na barriga?
Então, enquanto caminhava a passos rápidos, era o que sentia. Mas nem comentei com as meninas.
Fomos aos jazidos das bisavós, visitamos e conversamos sobre o que é a saudade.
Ao finalizarmos os devaneios, já estávamos subindo à rampa que dá acesso a área externa da rua do cemitério, quando nos deparamos com um padre, o violinista, um carrinho que dava suporte a uma coroa de flores, cinco pessoas em círculo e um coveiro, na ocasião vestido dos pés a cabeça de um roupão na cor branca.
De repente, o carro funerário se aproxima, abre o tampão, o padre dá uma benção, o violonista toca, fecha-se o tampão, os carros descem com a vida silenciada, as flores ausentes de seu perfume e as cinco pessoas, rapidamente precisam sair.
É o fim de mais um humano, que teve sua páscoa adiantada.
Ao entrarmos no carro, minha filha maior diz:
- Passa álcool em gel pai, porque não quero sentir essa saudade aqui e nem na rua do cemitério.