Ilusão E Realidade
Talvez eu devesse dizer Ficção e Realidade. A caminho do trabalho, eu tentava vencer o mar de lixo por todo o trajeto que me levava ao meu destino. O vento, em redemoinhos, fazia bailar as folhas secas das árvores, os incontáveis pedaços de papel e os detritos sem fim, numa verdadeira tempestade de sujeira. Quando, de repente, deparei com um caminhão coletor de lixo que estampava um cartaz dizendo: Cidade Maravilhosa é uma cidade consciente. Eu já andava, há vários dias, com a ideia de gritar para o mundo a minha indignação por conta da imundície de cidade. Afinal, cidade maravilhosa é uma cidade limpa.
Não sou um ferrenho defensor do governo do município, contudo, observo que no bairro onde eu trabalho, e, também onde eu moro, ele tem feito o que se espera dele. Quanto a isso, não tenho do que reclamar. A porcaria fica por conta da população. Já ouvi muita gente dizer que joga lixo na rua, mesmo, porque a prefeitura tem obrigação de recolher o lixo e gari tem trabalhar pra merecer o salário no final de mês. É pra isso que se paga imposto.
É por essas e outras, que, certas horas, dá vontade de morar no Japão e em muitas cidades da Europa, especialmente da Alemanha, que a gente vê nos documentários da TV. Juro que não há qualquer despeito – nada contra o meu país ou minha cidade – nas minhas palavras. Bem diz o ditado “cada povo tem o governo que merece”. Eu sempre digo que não devemos culpar somente os políticos pelas coisas erradas que acontecem, eles não vieram de Marte. Eles foram eleitos, saíram do meio do povo. Sabiam? Não é o governo que vira povo, é o povo que vira governo.
A dúvida no título do texto: “Ficção e Realidade” ou “Ilusão e Realidade” decorre do fato de eu não saber se a vida imita a arte ou se arte imita a vida. Quando, por sinal, estamos vivendo a realidade ou uma ilusão. Tenho visto as ruas limpas de Nova Iorque, Paris e Londres e outras imponentes cidades dos Estados Unidos e da Europa, e, além de, também, a cidade do Rio de Janeiro, linda e maravilhosa, limpa (creio que digitalmente) nas telas do cinema ou da TV. Posso falar de Nova Iorque, para onde viajo com frequência, pela “Google Airlines” e percebo que ela não é tão limpa e ordeira como parece.
Entretanto, não aceito que deva me conformar, dizendo que em qualquer lugar é assim, toda cidade tem seus problemas, nem sempre o que mostram no cinema é tão maravilhoso assim. Quem garante que a beleza de uma cidade não é um truque da ficção? Nós nos iludimos com a beleza dos outros e nos conformamos com a nossa realidade. Quem sabe não possamos transformar a ficção deles na nossa realidade ou vice-versa. Pois que a ficção de um é a realidade do outro.
Todos nós havemos que concordar que não podemos viver a ficção alheia, nem nos conformarmos com a nossa realidade. Por que não transformamos essa realidade em algo tão bom e maravilhoso quanto a boa e maravilhosa ficção dos outros. Cidade maravilhosa é cidade limpa? O que nós queremos: Ficção ou Realidade?
Não seria, a ilusão, deixar tudo por conta do Gari?