A LUZ DO DESERTO
Eu ainda não conhecia um deserto e nem tinha boas expectativas a respeito dessas paisagens áridas até que, uns anos atrás, meu falecido marido sugeriu que, em nossas férias, fôssemos conhecer o Deserto de Atacama, ao norte do Chile, um dos mais secos do mundo.
Celso era um estudioso de física e astronomia e o fato de poder examinar o céu de um local sempre limpo de nuvens, o interessava sobremaneira. Curitiba, onde moramos, não é favorável a essa prática pela proximidade com a Serra do Mar, de onde vem muita umidade, tornando o céu encoberto e embaçando a lente do telescópio. Grandes cidades são muito iluminadas e ofuscam a visão dos corpos celestes. Já no deserto, não há grandes aglomerados urbanos e nem luzes para interferir.
Convidamos para essa viagem, seu irmão Cândido, também astrônomo amador, sempre bem humorado, ótima companhia. Meu cunhado, prontamente aceitou e lá fomos nós conferir os encantos do deserto.
De São Paulo, voamos para Santiago, onde pernoitamos para descansar e, no dia seguinte, embarcamos em avião para Calama, a maior cidade da região. Voando sobre o mar vimos a cidade de Antofagasta, importante porto de saída para os diversos tipos de minérios do Chile, principalmente o cobre, cuja mina de Chuquicamata, em Calama, é uma das maiores do mundo. Entretanto, aí não permanecemos, fomos de van para San Pedro de Atacama, já em pleno deserto. Esta pequena cidade tem uma boa estrutura para turismo. O hotel onde ficamos, possuia paredes de adobe, da cor do terreno e sobre um forro de material resistente, enormes tufos de capim seco, arquitetura muito original, usando os materiais da região. Simples, porém confortável.
Passamos vários dias conhecendo o local, usando roupas leves e chapéus para nos proteger do sol impiedoso. Portávamos garrafinhas de água para hidratação e protetores solares para pele e lábios. Durante o dia as temperaturas são sempre maiores que 30 graus Celsius e à noite ficam negativas.
Foi o passeio mais bonito e interessante que fizemos. O local é lindo, extremamente colorido e luminoso. No horizonte sempre tínhamos presente o vulcão Licán Cabur a nos guiar. Há lava em forma de rocha por toda parte, algumas vezes com incrustações de sal, que brilham qual purpurina ao sol escaldante.
Lugar encantado é o Valle de La Luna, cujo nome nos remete às fotos de paisagens lunares. Subimos pelas encostas, patinando e afundando em suas areias grossas e pesadas de minério para ver o poente lá de cima. Sempre munidos de uma boa câmera, obtivemos fotos memoráveis das paisagens, povoados indígenas, salinas, lhamas, vicunhas, guanacos e dos flamingos que mantém suas penas rosadas comendo as algas que vicejam nas lagunas alimentadas pelo degelo dos Andes, salgadas e transparentes, como as de Miscanti e Miñiques.
Nos levantamos antes do sol nascer para percorrermos os 92 Km até El Tatio Geysers, na altitude, para vermos as águas ferventes que brotam do solo vulcânico e lançam altas fumarolas no ar gelado.
E o céu...Ah! O céu! Límpido e brilhante durante o dia, à noite é espetacular, descortinando a Via Láctea diante de nossos olhos com estrelas e planetas fulgurantes, mesmo a olho nu. Pudemos ver tudo, novamente, ampliado por aparelhos potentes e nos encantamos com a riqueza do céu atacamenho.
Muito mais eu poderia contar, mas vou dizer apenas que a visita foi inesquecível.