A Sessão de Poesia
Dizia poemas com voz de trovão e gesto largo. Sonetos, quadras populares, cadências rimadas. Dizia e ouvia-se, ajeitava o laço amarelo e o chapéu, folheava os muitos cadernos que trazia, olhava como se não visse e, ao acabar, dobrava-se em vénia a agradecer os aplausos. Era ele o poeta anunciado, o que faria a pausa nos discursos, espécie de estrela num céu que não havia. A seguir, sem constar do programa, sem pedir licença, esticou a saia, passou a mão pelos cabelos e, numa voz que, sem o microfone seria sumida, calma, doce, pausada leu o que a folha trazia. Com ela chegava finalmente a poesia, a que ia dentro das palavras, a que, perfumada, saía da sua boca para quem a ouvia. No fim, fez-se silêncio e a seguir a um “muito bem” soaram, frenéticas as palmas. Todos os discursos tentaram em vão definir poesia. Sabe-se quando está, cheira a violetas, pode doer, diziam. E, a seguir, liam, liam, liam.