Nada

Ecoando em silêncio. Meu peito grita vazio, talvez nada tenha restado, se não o nada, mas como vou escrever sobre o nada? Foi aí que me dei conta da complexidade do vazio, o nada se escreve, sem que eu mova um músculo.

A ausência da falta é efêmera.

Deixei que a sentença ecoasse dentro de mim, venho pensando em escrever sobre tudo e sobre nada, sobre a falta, mas não a perda, sobre a ferida que ainda coça ao sarar e sobre o medo de novas falhas, ao cair das folhas.

Leia as entrelinhas. O nada é a lembrança do que se foi, é a mordaça que cala sem esforço, um tapa brando no rosto apático.

Não sinto mais falta da falta que sentia, as perdas foram significativas e sinto o peso do nada, mas o tempo se passou e com ele a amargura de ser deixado para trás, ainda posso sentir as respostas não dadas, o abraço desgostoso e as ausentes desculpas, embora não possa negar a efetividade dos momentos que foram bons, e como foram.

O vazio no peito ainda pesa e os novos visitantes acabam por ressaltar os defeitos que alí se encontram, a casa foi abandonada e permanece sem muitos cuidados desde então, no entanto, a estrutura permanece de pé, numa tentativa silenciosa de resistência.

Tudo passa, mas é o nada que permanece e é na efemeridade da ausência da falta que se aprende a lidar com ele. Se nada escrevo, o nada me escreve.

Brenda Nascimento
Enviado por Brenda Nascimento em 18/03/2021
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