A Distância Entre a Ficção x Realidade
*Covid-19 X Raul Seixas*
 
... A sala de aula estava em polvorosa. A mestra adentra-a e pede que seja feito o silêncio, para o início da aula. Silêncio feito... chamada feita... a aula tem início com a mestra anunciando:
-Quero que seja feita uma redação cujo tema é sobre os animais que se locomovem voando.

Algum tempo é passado e o trabalho é entregue. Uma redação – pelo inusitado – desperta a atenção da professora e ela chama o autor da redação, para que ele explicasse o conteúdo do seu escrito – da sua dissertação!

-Meu querido, o tema pedido é “sobre os animais que se locomovem voando”. E você escreve que o homem é um animal que voa! O homem não voa. Como você explica isso? (A classe se esbalda em sorrisos.) O menino, sério, circunspecto e com segurança na voz responde:
- “Ainda não voa professora. Mas vai voar, sim!

Esse menino era o Alberto – Alberto Santos Dumont – que mais tarde viera assombrar o mundo ao colocar o homem voandono Champ de Mars, em Parise contornando a Torre Eiffel, em 23 de outubro de 1906!

E o menino que – sério e circunspecto – dissera para a sua professora que: - Ainda não voa professora. Mas vai voar, sim! Acabara de abalar Paris!
 
A ficção na literatura:
A literatura está abarrotada dos livros tidos, à época, como sendo “obras de ficção” por retratarem tão somente o imaginário – para a época, claro está.

Leonardo da Vinci – numa época em que somente os pássaros voavam e o homem nem sonhava em voar – já desenvolvera projetos do, hoje, conhecido helicóptero. E não satisfeito, inventou o paraquedas – “dentre as tantas e tontas outras maluquices” para a época – ficções do ontem, realidade do hoje tão em voga!

Júlio Verne (Um tremendo doidão para a época!) fora alvo de tremendas gozações ao escrever – descrevendo com minúcias incríveis – uma viagem de ida e volta à Lua em uma das suas épicas obras Da Terra à Lua (ano de 1865). E a “loucura” não parou. Ele voltou a ser alvo das críticas e gozações, ao assombrar o mundo com as suas obras de ‘geniais loucuras’ de antanho, ao narrar A Volta ao Mundo em 80 Dias – loucura para a época, realidade insofismável para o hoje. Hoje, um voo tripulado faz esse percurso em torno do mundo em 31h27min. E um satélite artificial percorre esse mesmo trajeto em 01h41min., bem menos que os, então, fictos 80 dias do “doidaço” Verne!
Ainda sobre o “maluco Júlio Verne” vale dizer que “todas as suas maluquices”, descritas na sua obra Da Terra à Lua, foram aproveitadas – nos seus mínimos detalhes – pela NASA, quando da sua épica viagem à Lua.

Mas “maluquices” – ainda bem – não têm curas. E numa época em que a navegação marítima era feita sobre as águas e a energia atômica engatinhava, Verne volta a assombrar o mundo com a sua “louca genialidade” ao construir o Náutilos – um submarino atômico, no seu “louquíssimo” romance 20.000 Léguas Submarinas!
 
E o que dizer sobre o Frankenstein? Vejamos:
Lá fora, uma tempestade assolava a região do Castelo de Lorde Byron. Os jovens Perc Bysshe, Shelley e seu futuro marido, ali se encontravam hospedados.

Como os três estavam presos na casa em função da tempestade, Lord Byron sugeriu um passatempo. O poeta, ícone do romantismo, desafiou a cada um dos presentes a escrever uma história de fantasmas (e não poderia haver atmosfera mais adequada à temática!). Em um primeiro momento, Mary Shelley relutou em aceitar o desafio. Alguns dias depois, entretanto, na madrugada de 16 de junho de 1816, a escritora teve a visão de um jovem estudante dando vida a ossos que havia recolhido de uma sepultura. Assim, com apenas 18 anos, Mary Shelley criou Frankenstein.

Temos, aí, “mais uma louca de jogar pedrinhas nos aviões”: Mary Shelley.

Se à época a ideia era absurda e louca, hoje nós temos esta alegria de vermos os nossos amigos pais, irmãos, esposos(as) – os Frankensteins – que, como o “monstro de outrora”, estão vivinhos por terem recebidos as partes dos que já partiram nos deixando o sublime ato da doação dos órgãos.

Do primeiro “transplante Frankensteiniano” até os nossos dias, a ciência está a nos provar que a distância entre a ficção e a realidade é tão ou menos tênue que a espessura do fio da teia da aranha. Pode-se afirmar ser inexistente por não haver nem este ficto distanciamento.

Hoje, estamos vivendo este terrível momento de Pandemia que assola o mundo. Hoje, todavia, devemos reverenciar Raul Seixas, o Maluco Beleza pela sua visionária e “incrível maluquice” ao compor em 1977 uma música em cuja letra ele veio a destacar esta terrível Pandemia do Covid-19.

E eis na íntegra a “utópica e maluca letra da música” que nos diz:
O Dia em a Terra Parou
(Raul Seixas)
Essa noite
Eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei
Com o dia em que a Terra parou
Com o dia em que a Terra parou

 
Foi assim
No dia em que todas as pessoas do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado, em todo o planeta
Naquele dia ninguém saiu de casa
Ninguém.

 
O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá

E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão também não tava lá
E o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar

 
No dia em que a Terra parou (Ê!)
No dia em que a Terra parou (Ô!)
No dia em que a Terra parou (Ô!)
No dia em que a Terra parou.

 
E nas Igrejas nem um sino a badalar
Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá
E os fiéis não saíram pra rezar
Pois sabiam que o padre também não tava lá

E o aluno não saiu para estudar
Pois sabia, o professor também não tava lá
E o professor não saiu pra lecionar
Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar

 
No dia em que a Terra parou (Ê!)
No dia em que a Terra parou (Ô!)
No dia em que a Terra parou (Ô!)
No dia em que a Terra parou

 
O comandante não saiu para o quartel
Pois sabia que o soldado também não tava lá
E o soldado não saiu pra ir pra guerra
Pois sabia que o inimigo também não tava lá
E o paciente não saiu pra se tratar
Pois sabia que o doutor também não tava lá
E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar

 
No dia em que a Terra parou (Ô, yeah!)
No dia em que a Terra parou (Foi tu)
No dia em que a Terra parou (Ô-ô!)
No dia em que a Terra parou

 
Essa noite
Eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, acordei

No dia em que a Terra parou (Oh yeah!)
No dia em que a Terra parou (Ô!)
No dia em que a Terra parou (Eu acordei)
No dia em que a Terra parou (Acordei)

No dia em que a Terra parou (Justamente)
No dia em que a Terra parou (Eu não sonhei acordado)
No dia em que a Terra parou (Êêê!)
No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou (Oh yeah!)

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Fonte: Musixmatch
Letra de O Dia Em Que a Terra Parou © Warner/chappell Edições Musicais Ltda.
 
Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 18/03/2021
Código do texto: T7209679
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