O invisível é decisivo na história humana
Sigmund Freud é o o criador da psicanálise, foi ele quem desenvolveu a teoria do inconsciente. De forma resumido, o inconsciente é algo invisível da mente, mas ele é decisivo na nossa vida consciente (cultural). De certa forma, o inconsciente se relaciona com tudo que está fora do alcance do consciente. No inconsciente se esconde as memórias da primeira infância, desejos secretos e impulsos ocultos (as pulsões). De acordo com Freud, o inconsciente contém coisas que podem ser desagradáveis ou até mesmo inaceitáveis socialmente. Por isso mesmo, os desejos secretos e os impulsos ocultos, no ser humano, tornam um transtorno à vida social e/ou cultural. A história da civilização ou da cultura está diretamente relacionada com a tentativa de domar os impulsos e desejos do inconsciente (as pulsões). Para o “pais da psicanálise”, muitas vezes, a história humana é uma sucessão de fracassos da cultura em relação as pulsões; uma vez que a cultura é uma experiência conflitante dos impulsos do inconsciente e as exigências morais de controle do consciente. Outras vezes, as conquistas civilizatórias são resultados da vitória da cultura (ações do consciente) sobre as pulsões (ações do inconsciente). Na teoria das pulsões de Freud devemos estar atento às duas pulsões antagônicas: Eros, que representa uma pulsão sexual, com tendência à preservação da vida; Tânatos, que representa a pulsão de morte, com tendência à destruição de tudo o que é vivo. Para Freud, a compreensão da história da civilização precisa levar em conta o papel que estas duas pulsões antagônicas ocupam nas ações humanas de forma inconsciente. Em relação a pulsão de morte, diz o psicanalista: “nossos filhos aprenderão na escola que a história do mundo é essencialmente uma série de assassinatos de povos”. A pulsão de morte (Tânato) se faz presente nas narrativas das civilizações, bem como a pulsão de vida (Eros). O pacto social sexual, ou seja, o “tabu do incesto”, que são as proibições sexuais entre as relações parentais próximas, é um exemplo claro de como Freud relaciona o avanço civilizatório às tentativas de controle à pulsão de vida (Eros). Sendo assim, a vida social só é possível quando há o direcionamento ou o controle destas pulsões no ser humano. A cultura tem um papel fundamental neste processo de direcionamento e controle das pulsões. Embora não seja um avanço nem linear e nem continuo, a história da civilização são narrativas de avanços e retrocessos da cultura (o consciente) sobre as pulsões humanas (o inconsciente). A teoria do inconsciente de Freud pode ser comparada a teoria atômica, uma vez que ambas tratam de fenômenos completamente invisível aos olhos humanos. No entanto, a existência invisível tanto do inconsciente quanto do átomo não impede de verificar o quanto estes fenômenos agem de maneira decisiva em relação a vida material (o átomo) e na vida corporal (o inconsciente). Fenômenos invisíveis são tão decisivos a história do universo como também na história humana. A teoria do inconsciente de Freud é a constatação de que o ser humano não tem o total controle sobre si mesmo, ou seja, existe uma instância psíquica dentro de nós que não controlamos. A história humana, em parte, está a mercê desta força invisível que não controlamos.