VÓ!
Ela estava ali, sabia que ainda continuava viva por causa dos aparelhos. Como doía vê-la naquele estado. Fui acometida do mesmo mal, porém, mais leve. Aconteceu tudo tão rápido que quando dei por mim, estava num leito de um hospital.
Havia recebido alta. Iria embora para casa. Mas, e ela? Quando receberia alta também? Perguntei a médica de plantão, contudo, não obtive resposta. Saí dali com o coração apreensivo e devastada, com a sensação de que algo faltava em mim.
Chegando em casa, percebi que os móveis estavam diferentes, a casa estava com cores vibrantes. Flores por todos os lados. A recepção bem acolhedora, mas não o suficiente para alegrar-me. Como era difícil saber que ela havia ficado lá, naquele lugar tenebroso, sem saber se escaparia. Apesar da tristeza, a fé, a esperança e o amor ainda faziam parte do meu ser, e isso era o que me colocava de pé, mesmo que imperceptível.
Algumas semanas havia passado desde que saíra do hospital. Todas as minhas esperanças na recuperação de minha vó acabaram de maneira repentina. Falecera ontem e o sentimento de perda era infindável.
Agora, enquanto olhava o mar em fim de tarde, refletia sobre tudo que me acontecera nestes últimos meses. Um vírus veio para destruir famílias. Chegando de repente sem avisar e sem dia certo para ir embora. Deixando-nos órfãos, sem esperanças por dias melhores. Perdi minha avó! Olho para a imensidão do mar e me perco buscando respostas para acalmar meu ego, e não as encontro. Quantos estão agora chorando por seus entes queridos, também com as mesmas indagações que eu? Não sei precisar, creio que muitos.
Que Deus conforte a todos que perderam alguém e proteja-os. Creio em dias melhores.
DÉBORA ORIENTE