COISA DO MATO GROSSO: O SUPERINTENDENTE AMEAÇADO

O SUPERINTENDENTE DA RECEITA AMEAÇADO

A empresa que eu trabalhava era proprietária do Banco Itamaraty e eu supervisionei a construção da então nova agência central do banco, em Cuiabá. Convidado para a festa de inauguração, eu tive a oportunidade de ouvir uma estória típica da região. Seguia a festa, com o presidente do Grupo Itamaraty, Sr. Olacyr Francisco de Moraes, como anfitrião. Presentes diversas autoridades: Governador Júlio Campos, deputado federal Zanete Ferreira Cardinal (depois Senador da República), prefeito de Cuiabá Gustavo Arruda, Secretário de Obras Haroldo Arruda, presidentes de empresas estatais (Dermat, Cemat, Casemat e outras). O convidado de honra era o novo superintendente da Receita Federal para o Mato Grosso, cujo nome não lembro. Entre muito uísque, finos salgadinhos, e muito rapapés para os nobres convidados, eu, um primo do Sr. Olacyr responsável pelo Banco, e dois amigos, nos instalamos em um canto e iniciamos um agradável bate papo. O representante da Receita, trazido pelo primo do presidente do grupo, se integrou na conversa. Era um homem jovem para o cargo, aparentava quarenta anos. E um assunto sempre recorrente entre forasteiros era o relato de experiências no Mato Grosso. Enveredamos nesse caminho e a conversa fluiu, e ouvi o superintendente contar como foi seu primeiro final de semana em Cuiabá.

Santo Antonio do Leverger é uma cidade próxima a Cuiabá e proporciona aos moradores da capital uma das melhores opções de lazer. Tem praias no Rio Cuiabá, que ficam lotadas de guarda-sóis, vendedores de cerveja e salgados, como qualquer praia de mar. Na época, o melhor programa era almoçar em um excelente restaurante em Santo Antonio do Leverger aos finais de semana. Comida bem elaborada e farta, muitos pratos típicos de peixes como pintado, cachara e pacu, servido com a tradicional gentileza matogrossense. Distante trinta e cinco quilômetros da capital, a viagem era um dos atrativos para a família apreciar a paisagem. Nosso amigo, seguindo a sugestão de companheiros de trabalho, no domingo comunicou à família que iria fazer um belo passeio e almoçar em Santo Antonio. Todos aprovaram. Chegado o domingo, saíram de Cuiabá para almoçar em Leverger. Passearam pela pequena cidade, olharam as praias pluviais e almoçaram a deliciosa comida do restaurante indicado pelos amigos. Concluído o almoço, o superintendente tomou a estrada de terra em direção a Cuiabá. O retorno seguia tranqüilo, em uma velocidade moderada. De repente, surge um carro que ultrapassa nosso amigo, gerando uma sólida nuvem de poeira. Irritado, com um automóvel bem melhor do que o havia ultrapassado e coberto de poeira, acelerou no encalço do carro que havia gerado o desconforto de sua viagem. Sem dificuldade alcançou o veículo, fez sinal para o motorista parar e estacionou seu carro no meio da pista. Desceu do carro muito bravo e começou a xingar e passar um sermão no camarada que dirigia. O camarada, muito calmo pediu desculpas, explicou que tinha pressa, sem sair do seu carro. Nada acalmava nosso amigo que cada vez mais berrava e xingava o motorista. Em uma tomada de fôlego, nosso companheiro viu um cano apoiado próximo ao quebra vento do fusquinha. Perguntou se era uma arma e o cara respondeu:

- É um revólver trinta e oito, chefe. Só estou esperando o senhor parar de falar para eu seguir viagem. Pode falar o que quiser, só não ponha a mão mim para não morrer.

Tremendo, o superintendente voltou ao carro e seguiu viagem. Nunca mais voltou a Santo Antonio do Leverger

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 16/03/2021
Reeditado em 28/01/2022
Código do texto: T7208503
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