UM VENDAVAL SEM LIMITES - BVIW



Não há limite para a memória afetiva. Essa nos pega desprevenida, seja através de um vento que rouba o chapéu na praia ou de uma foto esquecida. Ela nos reporta ao tempo em sua realidade irreversível. Uma noite, ainda jovem, voltando de um bar, demos carona a uma velhinha cheia de sacolas de mandioca. Depois que ela se foi, os amigos reclamaram do cheiro, mas eu estava focada no bem feito. Este que ficou em minha memória.

Voltando para os seus limites, chega a hora de anotar tudo que não pode ser esquecido. Se eu tivesse um diário de bordo, teria ficado perdido ao mar. Se tivesse um mar, nem precisaria de um diário. Afinal, não são todos os seres que ganham nome de rua.

Importante é reconhecer nas fases da vida o que foi pera e o que foi maçã. É quase impossível lavar uma alface sem rejeitar folha alguma; assim como é impossível voltar ao passado e lavar-se do mal dos outros. O bom é que não sou de lamúrias e toco para frente os dias. Se a memória perde seus limites espero que as afetivas atravessem o varal do tempo e que as melhores não nos abandone. Sei que ela apronta muito com as pessoas.

A atriz Julianne Moore é um exemplo em sua interpretação no filme Para Sempre Alice, onde aos 50 anos começa a sofrer Alzheimer. Essa doença faz das lembranças um vendaval sem limites varrendo o real que existe.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 16/03/2021
Reeditado em 16/03/2021
Código do texto: T7208319
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