GENERAIS E GENERAIS

A imagem que tenho do Exército é um tanto embaralhada. Convivo com as memórias de 64, as notícias, as reportagens, os relatos históricos sobre as ações dos militares. Ainda me recordo também de como, em Aracaju, surgiu uma onda de batizar escolas públicas com os nomes de generais presidentes. Comecei a minha vida de professora da rede pública no Colégio Estadual Presidente Costa e Silva. Achando pouco, também fui professora nos colégios estaduais Presidente Castelo Branco e no Presidente Emílio Garrastazu Médici.

E “o mundo foi rodando” nas patas dos cavalos dos generais até que veio a patada final desferida pelo General Figueiredo. O país iniciou uma luta desesperada para juntar os trapos da torturada Democracia. Os generais, ao que parece, se aquietaram em seus domínios, mas o trauma ficou, temos o verde oliva da ditadura tingindo o céu azul da democracia. Adveio um período muito bom, mas sabemos que equívocos políticos sempre existiram, existem e jamais deixarão de existir.

Passou Lula, veio Dilma, que foi derrubada do cavalo e substituída pelo flácido cavaleiro perdido do Apocalipse, o Temer. Todos com as barbas e as unhas de molho. Por falar em unhas, muitas foram arrancadas sem piedade de presos do período ditatorial. Tantos crimes, tanta mordaça e tanto desrespeito ao ser humano. Daí para a frente, a serpente chocava o ovo que abriu sua casca e mostrou o filhote que aí está, pintando e favorecendo, isto é, fazendo o que lhe dá na telha.

Outro ovo se abriu e não se sabe que monstro o gerou, o vírus Corona. Pandemias não são uma novidade para a História, mas são novidade para as populações do mundo atual. Logo se vê que vídeos, filmes e os mais diversos estudos sobre as pandemias que mataram muita gente pouco ou nada adiantaram. Sentir na pele é bem outra coisa, perder amigos e parentes é também um buraco mais embaixo.

Inventaram um pai e uma mãe para o Corona. Tá. Falta inventar um herói de verdade para destruir esse vírus. O mundo está tentando, menos o Brasil, que vacina um aqui e outro acolá enquanto o vírus aproveita para levar mais e mais pessoas. A doença desafia o folclore que sobre ela se formou e aquele mal que diziam programado para matar idosos, comparece aos berços das maternidades.

O filhote da serpente se criou, ficou grandinho, virou rapaz e, agora, já adulto, contribui para que a pandemia permaneça no cenário de um Brasil destroçado e enlutado. O filhote se cerca de generais, ao que vemos, diferentes dos que conhecemos a partir de 64. Não estou elogiando os generais do golpe de 64, mas a diferença, sob todos os aspectos existe. Existem também generais que não comungam com os malfeitos do filhote de serpente e que não tomam leite condensado. Quero é saber desses, dos que guardam alguma dignidade e respeito à farda. E que precisam cortar a cabeça do filhote, ou seja, retirá-lo da presidência como o retiraram do Exército e, ainda, com atestado de insanidade mental.

Sim, senhores generais, para a preservação do nome do Exército Brasileiro, é mais que urgente tomar providências e restaurar o processo democrático. Não contra nós, que estamos encurralados, desta vez não com medo de soldados, mas de um capitão de papel e de um general invisível, sem farda, o General Coronavírus.