Liturgia do Cargo II
Nosso ex-presidente, José Sarney, homem das letras, intelectual, costumava enfatizar "a liturgia do cargo", significando que nem tudo podia dizer, limitando-se ao cargo, pois suas declarações jamais seriam interpretadas como do cidadão, mas como do Presidente da República. Assim, determinadas questões deveriam ser direcionadas aos seus ministros, a quem lhes outorgou poderes, dentro de suas respectivas áreas. Isto evita certos constrangimentos quando a resposta não é a esperada pela imprensa ou mesmo pela população. Ou seja, como diria antigamente, "cada macaco em seu galho", hoje, mais modernamente, "cada um no seu quadrado."
Se podemos transmitir poderes, mesmo compartilhando responsabilidades, alivia um pouco a carga do outorgante.
Assim, ao ser assediado pela imprensa, para não correr o risco do constrangimento, quando possível passa-se a bola pra frente, sem a preocupação de querer ser o autor do gol. O resultado é do time e não apenas de um jogador isoladamente. Eis aí a liturgia do cargo. Os louros se voltam para o técnico, enfim para o treinador e para toda a equipe.