O ser trágico
Ser trágico não é ser pessimista. Trágico é aquele ou aquela que entende que a vida humana tem um destino inexorável: a morte. A morte não só física que encerra o ciclo biológico da vida. Mas a morte em vida. Morre as paixões, morre as crenças, morre os desejos, a beleza física, em fim, na vida muitas mortes acontecem antes da última. Para pensar na vida é preciso ter coragem para pensar no seu oposto; enfrentar o que está contido na vida: a morte de tudo na vida. Em vida morre a infância, morre a juventude e a velhice, que quando se chega nela, se aproxima da morte definitiva. Esta evidência, das mortes em vida, é o que marca a personalidade trágica. Mas como eu disse; ser trágico não é ser pessimista. O pessimista é aquele que não acredita na vida, ele ou ela pensa que a vida não merece ser vivida. O pessimista tem medo da vida, por isso mesmo, fala muito mau dela. O pessimista não gosta da vida, mas tem medo de morrer. Se esconde da vida pelo desgosto, mas não é capaz de encerra o seu mau viver. Todo pessimista tem uma retórica ruim sobre a vida; faz bravata do viver. Seu medo o acovarda da vida. O trágico não diz que a vida é ruim; ele ou ela gosta de viver. O trágico quer a vida; a vida como ela é, com toda sua intensidade, pois sabe que tudo é morte. Mas enquanto a morte não chega, ele deseja a vida. Deseja tudo que de belo e feio existe na vida. A felicidade é bela, a tristeza também. A juventude é bela, a velhice também. O trágico quer a vida mesmo diante do seu encerramento. Vive seu medo com a coragem de viver. O pessimista não quer a vida, faz do medo seu desprezo de viver.