A ANGÚSTIA DOS 39
Por @andreaagnus
Um espelho e dezenas de indagações.
Três cabelos brancos no topo da testa e uns diminutos próximos às orelhas. Um sorriso largo me acalenta: aí está meus 39 anos. Sigo contemplando a imagem diante de mim, procurando todas as metamorfoses da idade e, mais que de repente, fico pálida de espanto como naquele soneto lá. Tirando esses cabelinhos, nada aponta minha identidade: a coroa que eu deveria ser acaba-se ali. Rugas? Flacidez? Seios e bunda em harmonia com a lei da gravidade? Não! Nada identifica minha temporalidade.
Me distraio com uma espinha na bochecha direita – Acnes? Elas já deveriam ter acabado há muito tempo! – sigo, tentando me reconhecer e, por vezes, penso que devo estar amaldiçoada como Dorian Gray. Toda a musculatura firme e uma última tentativa: afinal, dizem que aumentamos de peso com o passar dos anos. Meu padrão é cinquenta quilos e a balança acusou cinquenta e três. – Ah! Está aí meu trunfo. – Mas, depois me lembrei que todo mundo ganhou peso na quarentena.
Uma angustia estranha de não-reconhecimento começou a revirar minha cabeça. Sou chamada na porta de casa:
— DONA Andréa, vim concluir a reforma do banheiro.
— Entre, Sr. Alcides, vou só aqui fora deixar o lixo, mas minha sobrinha o acompanha. — Enfim, um homem que repara nas mulheres.
Minha sobrinha, nos seus dezessete anos, recebe o pedreiro. Eu pego o lixo e escuto a conversa que se inicia, já do lado de fora da casa: — Dona Sofia, a senhora quer qual dessas cerâmicas?
Retorno para casa frustrada com o pedreiro que também deveria ver só uma garota em mim. Reparo nas crianças brincando de virar ponta-cabeça, do lado de fora do condomínio.
— Quem ficar mais tempo ganha.
— Ei! Posso fazer também? — perguntei, sem entender bem aquela vontade de diversão.
— Claro tia, vem!
Três pirralhos. Um de seis, outra menina de dez e, o maiorzinho, de doze. Eu – 39:
— Ganhei!
Icapuí, 12 de março de 2021.