O Feminejo

Já faz muito tempo que a música sertaneja deixou de ser o que originalmente era. Cantar o interior, o jeitão caipira do sudeste, do centro oeste e do sul, como fazia Tião Carrero e Pardinho, foi coisa que durou até a década de 1970, se muito. Os anos 80 já trazem nova sonoridade e canções com letras de romantismo, dores de amor ou coisa similar. A era Chitão-Xororó, se prolongou e perdura não só para os machos de vozes graves e bizarras, como podemos ouvir e ver bonitas moças cantoras, cantando o que nunca foi cantado por mulheres no estilo do sertão, que de sertanejo não tem quase nada, exceto pela formação das duplas.

Feminejo é nome que se dá ao romantismo da boemia feminina e eu não posso dizer que é do interior. Nesse início de novo século, as dores causadas nas mulheres por paixões mal resolvidas, recebem paliativos certos nos botecos, lugar onde antes era refúgio para homens que se viam solitários depois de uma separação amorosa. Essas novas musas são mulheres de vozes expressivas, os arranjos são compatíveis com as melodias pops e boleros. Gosto de algumas melodias delas por serem bem comerciais e de fácil entonação. Algumas letras retratam desenlaces como, esse trecho cantado pela Marília Mendonça:

“ Pus as malas lá fora e ele ainda saiu chorando

Essa competição por amor só serviu pra me machucar

Tá na sua mão, você agora vai cuidar

De um traidor, me faça esse favor.

Iê, infiel

Eu quero ver você morar num motel

Estou te expulsando do meu coração

Assuma as consequências…”

Em seus mega shows, a moças da era Marília contam com a sofisticação que a tecnologia oferece. As duplas são bonitas, afinadas, não cantam o rústico nem o lírico, são exclusivamente arautas da sofrência e da superação, e não se autoproclamam feministas.

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 11/03/2021
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