Vida de Cão.

Quem determinou as diferenças, étnicas?

Quem fez acepção de pessoas?

Quem deu poder ao homem?

Porque confiamos nossas escolhas em alguém?

Quem disse que somos diferentes, porque temos cor, credo ou pensamos de forma diferente?

Eu na próxima vida desejo realmente ser um cachorro.

Pois não será tão diferente desta, mas com certeza em algum momento meu dono me alimentará, me afagara, e seus filhos brincaram comigo, então mesmo que por muito pouco tempo, eu serei feliz.

O oposto disto não me pertence, porque alguém me disse que sou negro.

Minhas correntes são pesadas, meus pulsos sangram, mas o que está realmente destruido é minh'alma.

Eu só queria ter sido grande para meus filhos.

Eu queria ter filhos, não pude amar.

O ódio foi meu alimento, nas noites de açoite.

Eu não lembro mais qual era o meu erro, mas devo ter errado.

É verdade.

Minha cor foi um pecado, abominável.

Senti cada frustração sua, na minha pele.

Meu senhor, jamais jogou um osso pra mim.

Eu devia pedir desculpas, pelo que não fiz.

Eu pedia perdão, porque nasci.

Eu ainda não me lembro quantas vezes chorei, eu só lembro de saciar muitas vezes minha sede com lágrimas.

Pois nem água eu bebia.

Minhas costas ainda ardem, eu devo ter merecido.

Meu sangue também é vermelho, incrivelmente igual ao que saiu de seus calos ao me castigar.

Eu não sou diferente.

Eu também fui gente.

É melhor eu me calar agora.

O senhor está vindo.

Meus pensamentos ainda o machucam.

Meu olhar ainda o ofende.

Eu não sei porque incômodo tanto.

Devo ser muito inteligente.

Fui o seu braço forte.

Servi como se estivesse contente.

E ainda o que eu ganho, são correntes.

Mas quando voltar em sua vida novamente.

Desejo ser o seu cão.

Continuarei minha vida lhe servindo.

E ainda antes que meus dias se vão.

Pelo menos por um dia, seus filhos me ofertaram carinho.

Lauro Aguiar
Enviado por Lauro Aguiar em 11/03/2021
Código do texto: T7204066
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