A palavra é uma pedra que muda, corrói.

"É difícil defender, só com palavras, a vida." (João Cabral de Melo)

Hoje estou naqueles dias. Naqueles dias em que as palavras atropelam-me, deixam mossa, escarafuncham-me o saber compêndio, alvoraçam-me e abalam. Sem dó nem piedade.

Algumas são leves, outras têm peso. Também não saberia diferenciá-las. Afinal, até as palavras leves pesam.

O facto é que, leves ou pesadas, as palavras hoje revelam, erram e velam-se. São símbolos velados do nosso tempo.

E pergunto-me: como retirar as palavras da solidão de uma morte lenta, sem arreliar as lápides das palavras extintas, velhas e esfalfadas?

No desuso que lhes damos é que elas se usam, extinguem-se, morrem. Não. A palavra não morre, é perpétua. Nós, os desusados, é que morremos sem saber defender a vida de cada uma delas, ou defender a nossa vida, a sós com ela.

A palavra é uma pedra que muda, corrói. Ou não?