_______________TRAGICÔMICO
O mundo ferve, o Brasil cambaleia, a vida é trôpega. O colapso se alastra, arrasta os noticiários para o que anda sobrando de mais amargo: gente morrendo, falta de vacina, hospitais lotados, e suicidas que vão à morte sem medo algum — para si ou para os outros. E tem também o happy hour... Gente cheia de ficar em casa, gente avessa à pandemia, gente doida pra mudar de tema. Das duchas de suas coroas, o Corona ri, e o espetinho do fim de tarde, regado à cervejinha estupidamente gelada, passeia de boca em boca. Trágico ou cômico? Estupefata — inclusive, com boa parte das pessoas, me reservo: sou pelo meu porto-quase-seguro. Munida de lupa em lente biônica, sondo os horizontes — sem ter muito o que fazer, decido rever o drama/comédia Marcelino, pão e vinho (1955). Enquanto a vida roda lá fora, rebobino o passado, dou um time, abdico do pão, me abstenho do vinho... Sem celebração para o que não há: nesse caso, o trágico nunca é risível.
O mundo ferve, o Brasil cambaleia, a vida é trôpega. O colapso se alastra, arrasta os noticiários para o que anda sobrando de mais amargo: gente morrendo, falta de vacina, hospitais lotados, e suicidas que vão à morte sem medo algum — para si ou para os outros. E tem também o happy hour... Gente cheia de ficar em casa, gente avessa à pandemia, gente doida pra mudar de tema. Das duchas de suas coroas, o Corona ri, e o espetinho do fim de tarde, regado à cervejinha estupidamente gelada, passeia de boca em boca. Trágico ou cômico? Estupefata — inclusive, com boa parte das pessoas, me reservo: sou pelo meu porto-quase-seguro. Munida de lupa em lente biônica, sondo os horizontes — sem ter muito o que fazer, decido rever o drama/comédia Marcelino, pão e vinho (1955). Enquanto a vida roda lá fora, rebobino o passado, dou um time, abdico do pão, me abstenho do vinho... Sem celebração para o que não há: nesse caso, o trágico nunca é risível.