As Mulheres e o Silêncio
“Para cada homem, há sete mulheres e meia” – dito popular
1.
Diz-se, em geral, que as Mulheres “são a outra metade da Humanidade”.
À primeira vista, somos levados a pensar que talvez não seja bem assim... Porque é próprio do Mundo Animal, do qual o ser humano, quer queira quer não queira, é parte integrante, haver mais fêmeas do que machos.
A poligamia faz parte da realidade de grande parte da Natureza, embora haja, como é sabido, animais que acasalam de modo monogâmico para toda a vida.
A sociedade monogâmica europeia vem da tradição romana. No entanto, nem por isso os Romanos demonstravam maior respeito pelas Mulheres, pois acontecia que jogassem as esposas aos dados, ou trocassem de consorte entre amigos, por tempo indeterminado.
A Igreja, herdeira da cultura latina, que a expandiu no mundo europeu na Alta Idade Média, impôs a monogamia como boa forma de organização social.
No mundo visigótico não era assim. Os Visigodos eram polígamos. Pelo menos, nas classes altas. Era necessário garantir a transmissão da linhagem, e das heranças, nessa época em que a mortalidade infantil era elevada.
Muitos reis peninsulares, descendentes e herdeiros da cultura dos Visigodos, viveram em litígio com a Igreja católica. Como se sabe, os nossos reis faziam os seus casamentos de acordo com os interesses de alianças políticas, mas mantinham a tradição poligâmica. Frequentemente o amor nascia fora do casamento, uma vez que este tinha sido realizado por mera conveniência política.
No Islamismo, o Profeta Maomé manteve a poligamia, como forma de garantir a subsistência e o estatuto das mulheres. Em caso de viuvez, o irmão do defunto deveria casar com a viúva, não por “abuso de poder” mas sim para lhe garantir abrigo e dignidade.
Aliás, a tradição do “harém” era muito cultivada no mundo e cultura de Bizâncio.
Obviamente, nessas épocas recuadas, a Mulher não tinha os mesmos direitos que o Homem, e quer no casamento polígamo, quer no casamento monógamo, a Mulher era propriedade do Homem a quem devia manter-se humildemente submissa e sempre eternamente grata. Até porque num mundo de severa divisão do trabalho, à Mulher de qualquer estrato da sociedade estava reservada a salvaguarda do gineceu.
De qualquer modo, vemos que a instituição do casamento polígamo não era como vulgarmente se diz, uma instituição bárbara e lasciva, mas uma forma considerada viável de garantia de uma sociedade digna...
Que essa solução tenha sido vivida como situações de exploração e subalternização, isso é próprio da natureza humana, que sempre encontra um modo de subverter as boas intenções das instituições e de as tornar venais...
Um dia, um jornalista ocidental perguntou à princesa indiana Gayatri Devi (1919-2009), educada em Inglaterra, e que tanto fez pela elevação do nível educacional das Mulheres indianas criando escolas para meninas, como é que uma “mulher educada no Ocidente” se permitira casar em regime de poligamia. E a sua resposta foi simples, directa, e eloquente:
– Vocês no Ocidente fazem o mesmo, mas às ocultas; não seja hipócrita!
2.
Muito bem. Se os homens, de uma forma ou de outra – e sem juízos de valor – precisam de ter mais do que uma companheira, e se de facto, um bom número deles dá prática a essa necessidade, perguntar-se-á se as mulheres serão mais numerosas que os homens.
Na realidade, as estatísticas mundiais dizem que o número humano de machos e de fêmeas é bastante equilibrado: aproximadamente 1,01 homem para 1 mulher.
3.
A pergunta que eu me proponho e para a qual não encontro resposta que me satisfaça, é a seguinte:
– Sendo o número de homens e de mulheres tão equilibrado, como se compreende que as Mulheres tenham sido tão subjugadas e silenciadas ao longo da História?!
Só encontro uma resposta:
– Pela força. Pela desigualdade das leis. Pela perversidade de as manter em estado de ignorância.
É por isso que uma das principais medidas a que se lança mão quando se quer levantar o nível da consciência individual e social da mulher, é fomentar a Educação!
E atingimos aquele conhecido lema:
Educação igual para todos
e
Trabalho igual / salário igual
Os meus votos, hoje, dia 8 de Março de 2021, é que a Educação chegue a todas as Mulheres do Mundo, e que ela seja o instrumento, a alavanca que faça subir a sua consciência dos seus Direitos e da sua Dignidade!
© Myriam Jubilot de Carvalho
8 de Março de 2021