SER MULHER
Prof. Antônio de Oliveira
No meio do caminho tinha uma pedra.Em minha calça uma etiqueta com um nome:Eu Etiqueta.Nome que não é meu nome de batismo ou de cartório.
Um nome de grife...
Uma escrava antiga era marcada com uma flor-de-lis.Subjugada de maneira vil
A mulher de hoje se apresenta de maneira visual e virtual.
Não se dá a devida importância ao poeta.Lembra Robespierre que o próprio Platão banira os poetas de sua República. No entanto, um verso simples, coloquial, pode ajudar a identificar a presença de um obstáculo, uma pedra no caminho das pessoas, com seus quefazeres, seus sonhos e conflitos.
Carlos Drummond de Andrade é uma referência no mundo das letras, sobretudo no campo da poesia. Introspectivo, observava ‘mineiramente’, contemplava, garimpava palavras e reconstruía o mundo, lido, relido, por dentro e por fora, de viés e pelo avesso. De cabeça para baixo. Mulher leitora de Drummond não é apenas sua leitora, ele também é seu leitor.
Ameaçados pelo letal coronavírus, ainda nos convém o título de humanos?
Nosso nome novo, coisificado, comum a todos, é Coisa.
“Eu sou a Coisa, coisamente.”
Depois de passar pelas gôndolas deste mundo empilhado, industrializado, globalizado, engarrafado, enlatado, a mulher vai ao caixa. O sensor faz a leitura criptografada no código de barra, O caixa fecha a conta, a mulher pega o extrato, que quase nunca confere, pois confia no sensor, no seu leitor-autor óptico.
Dá uma última olhadela no carrinho, mais ou menos cheio, de acordo com o limite de seu cartão. Não necessariamente no limite de seus sonhos e desejos. Pois a mulher, emancipada, tem que usar óculos ’trifocais’, para o corpo, para a alma e para a razão de viver.
Mundo, mundo, vasto mundo...Não sou um robô.Meu nome é Mulher.