Três ondas no tempo
Não muito tempo atrás cerca de cinquenta anos, meu pai, minha mãe e eu fomos na praia de Alagoas.
Esse conto começa de trás pra frente com relatos vagos.
Estamos na casa da minha avó, era criança e por isso minhas lembranças são vagas porém, marcantes.
A sala tinha uma rede, dormi nela várias vezes, olhava para o chão vermelho, encerado brilhava com os raios de sol adentrando pela porta que abria em duas partes, uma olhava o céu onde meus pensamentos admiravam o cenário com pássaros, poderia voar com minha imaginação, e a outra o chão de terra onde estava com meus pés.
Não estava me sentindo acomodada fora da minha casa, fora da minha cama, as pessoas pra mim eram estranhas mesmo apresentadas, sentido de avó com ternura estava bem longe disso.
Conhecia minha mãe e meu pai e o meu avô materno que sempre estava na minha casa, me levava no bar:
Uma pinga - pediu para o balconista.
Rosinha escolhe um doce - ele me dizia.
Meus olhos se perdiam, queria todos.E no final escolhia um.
Era assim minha vida em São Paulo.
Ali em outro lugar ficava calada.
Numa tarde meu pai me levou naquela praia, tinha um coqueiro todo torto, me chamou a atenção.
Vi o mar, era a primeira vez que via tanta água, as ondas iam e vinham, senti vontade de entrar naquelas águas, mas não falei nada.
De repente meu pai me pega nos braços caminhando em direção do mar, me sentia segura nos seus braços.
Ah, elas não vão me pegar, olhava para as ondas como se estivesse brincando com elas falando por pensamento, soltei um sorriso.
Aquela e alta, segure no meu pescoço - disse meu pai.
Segurei, ele se abaixou, engoli água, senti medo, desespero sem saber o que estava acontecendo.
Ele me Levantou, engasguei e respirei,
- De NOVO, disse ele
Nem deu tempo para falar.
Entrou água pelo nariz, pela boca, e no ouvido.
ele disse, isso é para você aprender sobreviver durante sua vida.
Não entendi nada.Comecei a chorar, pedir para me tirar de lá.
saímos e dali minha memória tem lembranças detalhadas, em partes.
O tempo passou, o dele, o meu e o próprio tempo.
Essas três ondas continuaram....
Hoje após meio século, compreendi o sentido dos tres mergulhos, a vida é um mar, com ele as ondas altas nos levam, nos afundam e nos jogam para fora, você engoli as águas, engasga, fica surdo, chora, perde a fala e respira quando as ondas se acalmam, com cuidado para elas não lhe afogar nas dificuldades que vem e vão.