O PAVOR DO VÍRUS
Nem sei quantas vezes já me senti infectada pelo vírus ingrato da moda. Atenção, eu disse "me senti".
Um sofrimento terrível, imaginando-me com o pé na cova e arrependida (até o último fio dos poucos cabelos), por não me ter cuidado melhor.
Sempre é à noite que esse desgraçado sentimento me pega de jeito. Não sei de onde arrumo uma irritação na garganta, tosse seca e até um mal estar, que fico na dúvida se existem ou são frutos da imaginação.
Então, desando a comentar com o marido sobre a infeliz possibilidade rondando e, apavorada, a pedir proteção aos santos e aos bons Anjos.
Para aliviar o imediato sofrimento, enfio um comprimido qualquer goela abaixo, para garantir a subsistência até o dia seguinte.
Já houve, inclusive, uma noite em que achei que deveria providenciar umas partilhas de coisinhas, nem tão importantes, ou tão partilháveis assim. Coisas de mãe... Imaginei o fim próximo.
Naquela noite, comecei a conversar com Deus e até pedi perdão, por não ter me comportado do jeitinho que Ele gostaria que tivesse sido e blá blá blá com Ele.
No meio da conversa, adormeci. Penso que o colóquio fez-me tão bem, que relaxei e descansei minha mente da terrível preocupação. A automedicação analgésica também me mergulhou em sono reparador.
Acordei, no dia seguinte, saudável igual a um coco e forte tal qual peroba-rosa.
Têm sido frequentes esses episódios, basta eu cismar que descuidei com algo passível de contaminação e pronto: eis-me possível hospedeira do indesejado.
Sei que é paranoia, porém a atribuo à situação calamitosa em que vivemos e me pergunto até quando estarei sobressaltada, com os olhos pregados no teto, ao mínimo sinal de garganta irritada.
Que Deus me perdoe, pelo deslize delator de fé pequena, mas Ele sabe que creio firmemente Nele e que o momento neste Planeta é quase que inumano e nos leva ao inevitável desespero.
Dalva Molina Mansano
04.03.21
Em tempo: Não se descuide! Sempre é importante observar os primeiros sintomas. O texto acima é apenas um desabafo, não é regra geral. Cada caso é um caso.
Dalva.
Boa tarde a todos.