UMA COISA PUXA OUTRA

Uma coisa puxa a outra, uma conversa puxa outra, uma lembrança puxa outra. Muitas vezes já ouvimos ou já falamos essa frase, independente do assunto ao qual ela se referia.

Ontem experimentei bem essa realidade e quis escrever sobre isso, mas não tinha como naquele momento, anotei o lembrete mas temo ter me esquecido de alguma coisa.

Vendo uma postagem de umas fotos que uma pessoa amiga fez no facebook, referentes ao asfaltamento de uma rua la na minha cidade de origem, pelo posicionamento da rua e a paisagem ao fundo, reconheci a rua, em que pese já tenham se passado décadas desde que saí de lá, e das vezes que lá voltei raramente passei lá por perto.

Ao reconhecer o lugar me saltou à memória a lembrança de uma família que morou em umas das primeiras casas daquela rua.

Conhecia a família pois já tinham sido vizinhos nossos na outra extremidade da cidade. Eu nos meus oito ou nove anos esquadrinhava a cidade inteira, hora com uma carroça entregando tijolos ou lenha, hora a pé vendendo alguma coisa, bananas era a mais frequente, e o senhor que era o pai daquela família costumava me comprar alguma coisa, nunca sem antes me encher a paciência querendo que eu lhe vendesse fiado.

Mas a principal referência que me fez recordar dessa família, não foi somente a rua, a casa ou os meus negócios e andanças, mas o fato raro que não vi outro em minha existência.

Entre as filhas moças daquele senhor, uma tinha os olhos com cores diferentes um do outro. Não era discreto, um era bem escuro e o outro bem claro.

Disse que não havia visto em mais ninguém, olhos de cores diferentes um do outro e é verdade. Em pessoas não vi mesmo, mas em nossa casa já lá na cidade grande, os meus filhos já grandinhos, apareceu um filhote de gato, com olhos de cores deferentes. Ele era todo branco e parecia muito agressivo, o que me fez levar e soltar em outro lugar, já que minha mulher tinha medo do gatinho.

Como uma lembrança puxa a outra, e falando em olhos, lembrei que lá pelos meus quinze anos, quando minhas irmãs faziam aulas de datilografia em uma escola chamada Presidente Kennedy, eu as acompanhei e gostei de ir lá.

Cheguei a me matricular mas não passei do exercício asdfg-çlkjh., preferi a oficina onde há pouco tempo começara a trabalhar.

A razão deu ter gostado de ir na tal escola era uma aluna que eu achei muito linda. Era linda e eu achei que ela havia se interessado por mim. Eu tinha certeza disso. Certeza? Não sei! Ela tinha estrabismo daqueles muito acentuados e isso me confundia demais. Será que ela estava ou não olhando pra mim. Seu eu fosse um pouco mais desinibido acho que teria me aventurado, pois o estrabismo dela era compensado por sua grande beleza.

Acredito que nessa de uma coisa puxa a outra eu acabaria escrevendo um livro! Será?

JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 04/03/2021
Reeditado em 09/03/2021
Código do texto: T7198403
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