A culpa é sua
Emprestar os ouvidos às dores do coração pode custar sua audição, visto que, depois do monólogo, um simples sim, coloca você na lista negra do problema. A pessoa vem até você com várias queixas, certezas, dúvidas e contradições, faz um panorama cronológico dos fatos e acontecimentos, pinta e borda, e ainda tece um perfil patológico do parceiro.
Fala cobras e lagartas, dinossauro, pedra lascada, e derrama meteoros de confidências sobre a sua cabeça. Chora pitangas e acerolas, vomita segredos de liquidificador, cria uma teia de desilusão e dor, que comove até os mais céticos, que dirá quem é empático. É quando o ouvinte desarma, concorda em número, gênero e grau, e fala verdades plurais.
Diante do contexto apresentado, das vivências diárias e visão de mundo, interpreta e argumenta, conforta e apoia as decisões que, no momento, pareciam as mais acertadas. Sim, porque não somos do canal fala que te escuto, nem da ouvidoria do governo, muito menos, robôs. Quando o problema é de ordem matrimonial, principalmente.
Os conselhos não são receitas de remédios, mas experiências que podem dar certo. Muitas vezes, são mudanças de atitudes e comportamentos, ou rupturas. O que gera desconforto, medo, rejeição e lágrimas. Alguma ação precisa ser feita, não é muito inteligente esperar um milagre sem pedir, sem dobrar o joelho.
Tudo na vida exige esforço, dedicação e força de vontade. Nada é para sempre, nem a tristeza. E quando passa a choradeira, o muro das lamentações tem que ruir. Um tsunami de mentiras, verdades, excrescência e culpa é jogado em cima de quem ajudou. Parece que a falta de caráter, desvio de personalidade e as escolhas erradas foram nossas.
O que configura transferência de responsabilidade, imaturidade, despersonificação e inversão dos fatos. Vale salientar, que a época da inocência é um filme de Martin Scorsese, e crianças não metem. Diante desse cenário caótico, só ouça! Porque se você escutar, a culpa é sua.