A gente não invadiu sua praia
'Não sou jovem o suficiente para saber tudo.' O. Wilde
Nós já fomos “os filhos da revolução”, “burgueses sem religião”, “o futuro da nação”, revolucionários e idealizadores de um futuro de liberdade, impulsionados por professores e pseudo-intelectuais amargos inspirados pelos ideais gramscistas e supostamente sufocados pelo regime militar.
Éramos adolescentes, a minha geração, quando o Brasil gritava pelas “Diretas, já!”, uma utopia – quando avaliamos o resultado décadas depois – desenhada por aqueles que cobiçavam, simplesmente, o poder.
Naquele nosso tempo, no prelúdio da vida adulta, toda rebeldia nos era válida: “Não vai dar, assim não vai dar, como é que eu vou crescer sem ter com quem me rebelar?”. Cantávamos que o Brasil era o país do futuro – nós éramos o futuro –, porém o que mais fazíamos era nos revoltar entoando o rock rebelde; éramos a minoria, “mas pelo menos falo o que quero, apesar da repressão”.
“Polícia para quem precisa de polícia”. Pobre rebelde sem causa: rebelou-se tanto que se esqueceu de se rebelar consigo mesmo! Ademais, “a gente não sabemos escolher presidente”, e não sabíamos mesmo; por outro lado, as opções sempre foram escassas e a propaganda muito forte: sobravam, pois, sempre dois lados da mesma moeda, consequência da rebeldia sem ação, que se deixou ser manipulada e mal representada.
Minha geração errou bastante, e a conta chegou; e mais uma vez se revolta contra o 'status quo' não agindo o suficiente para produzir uma mudança necessária e urgente. Sua inércia resultou na dinâmica que produz a força indispensável à mecânica do poder, corporativista, que se protege e se camufla, que ataca enquanto defende sua posição. Além disso, “ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da Nação! Que país é esse?”. Esse é aquele meu país do futuro.
Vemos um presente resultante de nossas ações ou da falta delas; um presente sombrio no qual precisamos de um aval para agir, sem boas perspectivas no horizonte, sem a fala no lugar certo e com a liberdade ameaçada.
“Será verdade, será que não? Nada do que eu posso falar. E tudo isso pra sua proteção, nada do que eu posso falar!”.