Comendador por Antecipação
Procedente da histórica cidade alagoana de Penedo, chego a Traipu, também alagoana e ribeirinha do São Francisco, em decorrência de mudança de empresa. Vindo de Pernambuco, um colega de fino trato, de comprovada lhaneza, um verdadeiro cavalheiro, me trata de "Comendador", não porque eu seja merecedor do título, mas pela sua maneira de ser gentil, cortês, sem nenhuma característica de bajulação, pois éramos do mesmo nível. E eu já dizia: "se um dia eu for contemplado com uma comenda, você será o convidado para fazer-me a entrega."
O tempo passa, ele volta para Pernambuco, eu fico em Alagoas, passando por outras cidades do interior, até chegar a Maceió, onde me aposentei. Ele, depois de aposentado, faz também a sua opção por morar em Maceió. E, ainda como gesto de cavalheiro, diz: "escolhi Maceió para ficar perto do Comendador". Ora, ambos aposentados, seu gesto contínuo de "gentleman", poderia ser visto como bajulação?
_ Jamais, é a sua maneira de ser sempre agradável com o colega e também amigo.
Não sei se por mérito ou mera casualidade, eis que sou contemplado com uma Comenda da Academia Meceioense de Letras. Pelos protocolos da instituição, a entrega seria feita pelo Presidente ou por um confrade da própria Academia. Mas eu, de pronto, fui logo dizendo: "se em tudo é possível a quebra de protocolo, então aqui não vai ser diferente". E convidei o colega para se fazer presente ao evento realizado no Teatro Deodoro, o mais famoso de Maceió. E lá estava ele para oficializar o que dizia apenas por brincadeira. Ao subir ao palco, feita a entrega da Comenda, cumprimentou-me: "agora você é Comendador de verdade". Independentemente daquela solenidade, nada mudou em relação ao nosso relacionamento. A nossa amizade já fora consolidada desde aquele encontro em Traipu, há exatos 40 anos. Fica aqui a máxima: "quem é bom já nasce feito."