Lugar de fala
Num grupo de "estudo" da obra de Dostoiévski, uma menina se referiu ao "lugar de fala". Meus olhos arregalados fizeram com que a menina me inquirisse:
- Algum problema?
- Comigo não.
Respondi com um sorrisinho sarcástico de canto de boca, aquele sorrisinho que faz esse tipo de menina passar mal, ter alteração na pressão ou aquelas desculpas femininas de sempre: "São os hormônios!"
E como ela insistiu com o meu sorrisinho reacionário, disse-lhe:
- Ah, não fique chateada, mas quando você recorreu ao "lugar de fala" fiquei imaginando se isso ocorresse naquelas reuniões que aconteciam nas belas casas da avenida Névski. Certamente, Dostoiévski pela timidez ficaria mudo, mas o terrível Turgueniev soltaria uma gargalhada que alcançaria a Praça Púchkin.
A menina fechou a cara e seguiu em silêncio mórbido o restante daquela reunião. E pude notar que sem o seu "lugar de fala", o "lugar" se tornou livre, fala para todos.