O GRANDE CATADOR DE LUXOS
Vocês não me reconhecem,e nem tão pouco querem conhecer, mas eu conheço muito bem vocês, cada um, tão bem que assustariam.
Somos tão próximos,
mas nunca se tocaram sobre isto.
Não me notariam com certeza!
Carregaram o fardo da arrogância, e ela cega.
Estou tanto tempo por perto, e repito, que pareço uma sombra ,bem abaixo dos seus pés, é assim que este tipo de intimidade se apresenta, mesmo que invisível.
Platônica convivência!
Sei tanto de vocês, todos tão iguais, o mesmo ritmo acelerado de quem tem uma vida de consumos desenfreados.
Sei tudo! Das dores de cabeça, na segunda feira, do mal humor aos domingos, das suas mal executadas dietas, das suas festas infundadas, das longas viagens longe do lar, como sei também dos seus amores fúteis, das infidelidades, e também das noites de solidão.
Sei dos erros, dos vícios, conheço muito bem os seus medos, suas conquistas, os seus fracassos.
Estou tanto tempo aqui, que os vi crescer e envelhecer, e não demorou tanto tempo para a transformação, muitas pessoas se assustam com o tempo, menos eu.
Obtiveram o conforto da sorte em nascer num berço esplêndido.
Mas este lhes deixaram frágeis demais perante as dificuldades apresentadas pela vida.
Vi alguns se abalarem pelas perdas, tanto que se prenderam na clausura da depressão.
Percebi nos remédios usados, e evidenciei tantos perderem o entusiasmo de outrora. Notei as suas amizades; os comportamentos destas.
Observei "As falsas amizades" chegarem perto, e tantas outras " Verdadeiras" se afastarem também, quando mais precisaram.
Eu presto muita atenção ao meu redor, é o que me restou a fazer da vida, não sobrou mais nada. Não que tome conta da vida alheia, longe disto, e porque estão no meu entorno,mas o que era pertencente a vocês, chega até às minhas mãos como cartas ao remetente "eu".
Nunca foram de cumprimentos uns com os outros,, de dar um simples bom dia, vizinhos apenas por aproximidades residenciais e só.
O contato mais próximo que obtive, foi quando me entregavam suas sacolas plásticas cheias do que acreditavam não lhes servir mais.
Ninguém jamais ousou dizer um por favor.
Como se fosse uma obrigação minha recolher algo, ou porque me enchergavam como o próprio lixo que eu vasculho.
Eu sou este, que vivo das sobras dos afortunados, por isto sei o que comem, o que vestem, o que bebem, no uso e no descarte, sem perceberem revelam ali suas identidades.
Eu vivo a muito tempo nestas ruas onde ninguém vê ninguém, apenas enxergam o que os outros possuem ou o que vestem.
Não tem nomes, só sobre nomes, este sim tem algum peso como indicativo social, a tal família, como um pedigree, uma medíocre espécie de marca.
Se identificam por posses; se não é aquele individuo do carrão vermelho apontado por olhos cobiçosos, é a visão daquela fulana com sua nova bolsa de grife,desfilando na passarela das requintadas calçadas de mármore italiano.
Acreditem, eu também já fui como vocês, idêntico, mas a vida derrepente virou, então mudei de endereço, agora situo numa residência sem números, sem portas ou grades, não sei se foi por pura sorte ou azar, mas hoje não possuo nada, perdi todas as minhas futilidades, todos meus excessos.
Hoje eu sou este chique miserável, o grande catador de luxos alheios.
( Do meu livro: Textos Avulsos)
( Autor: George Loez)