Visões

Visões






- Quais são as visões? – indagou o homem vestido de branco.

Estamos numa sala cujo piso é de um branco leitoso, as paredes idem e do teto exala, porque esta é a impressão que se tem - como se estivesse vivo - um azul claro com manchas brancas, diáfanas, feito nuvens. Estou deitado numa espécie de maca.

Outro homem, de dentes grandes, alvos, repete a pergunta com o adendo: comece pela ordem.

- Ordem? Acho que começa com algo que li há pouco, não me recordo onde, talvez na internet, talvez num jornal de bairro, ou quem sabe num folheto. Algo como “Percepções do Guerreiro fora da Matrix”.

- E depois? Pense na ordem e feche os olhos para responder.

Não foi preciso pensar muito pois as imagens eram translúcidas, falei sobre o pórtico do Salão do Carma, onde se divisa grupos de almas caminhando lentamente, acompanhadas pelos anjos e atravessando a imensa arcada. Algumas almas isoladas estão rodeadas por seres de radiante Luz.

Nisso uma mulher se aproxima de mim, também vestida de branco e indaga:

- Isso está na ordem?

Digo que sim, pelo menos como eu percebo, e agora, noutro contexto, vejo a mulher assassinada, que gostaria que pelo menos sua mãe fosse avisada.

Os homens de branco intervém, discutem um pouco numa língua que desconheço, aliás, apesar de me perguntar o que estou fazendo aqui, nada me incomoda, nem mesmo essa questão. Talvez eu esteja aqui por dever.

O primeiro homem me serve um copo de água e pede para continuar. Como, por minutos, nada me vem à mente, ele instiga.

- Fale sobre o guerreiro. O que ele vê?

Quando eu ia abrir a boca, me adverte:

- Feche os olhos para falar.

- O guerreiro vê os Navegadores Sirianos, Pleiadianos e os Portadores de Códigos entrando na Terra, neste momento. Eles vem do futuro e estão instalando a Grade Cristalina nos Portais Octaédricos que transcendem dimensões e tempo. Esses portais estão sendo conectados diretamente aos pontos apicais do pentadodecaedro duplo estrelado da Grade Cristalina 144. Um deles fica na Irlanda, outro na Ilha de Páscoa, sim, parece a Ilha de Páscoa e...e...acho que estou cansado.

Eles debatem. A mulher parece muito agitada e o dos dentes grandes transpira calma. Ele sempre sorri.

A mulher quer que eu torne a falar sobre a mulher assassinada cujo corpo ninguém encontra e tento explicar que não sou eu quem está falando e daí, digo que nesse instante ouço algo, e mesmo de olhos fechados, não vejo, mas ouço.

- O que você ouve?

- “Quando vos apresentardes ao Conselho Cármico (lá, cada um, em algum dia, deverá comparecer), então UM dos bem amados Irmãos poderá dizer: “Este filho nos serviu” – e Ele (o Mestre) poderá ser vosso padrinho. Muitas vezes são chamadas as testemunhas para comprovar o BEM que as almas praticaram na Terra. Também os que pertencem ao reino dos quadrúpedes testemunham pelos benefícios recebidos. Tudo isto parece muito protocolar. É muito raro uma alma comparecer ao Conselho Cármico sem ter no mínimo feito algum bem a uma emanação de vida, durante a sua existência terrena. Quando uma alma for avaliada sob o prisma espiritual e sua luz for medida, ela será levada a uma das sete esferas do interior”.

Parei um instante e, curioso, como se um canal fosse desligado e outro colocado no lugar, eu podia ver de novo, agora um homem de meia idade falando para pessoas num auditório.

- Pela ordem... – pede a mulher, ao que eu retruco que não há como controlar, é como se eu estivesse dentro de um caleidoscópio e então do nada ele se move e surge um novo padrão.

- Já entendemos – adverte o primeiro homem de branco – e agora, o que você vê?

- Feche os olhos – disse o segundo, o dos dentes.

- Hã...deixe ver, estou começando a ficar cansado...ah, eles dizem...

- Eles?! – interrompe a mulher.

- Ops, a coisa está ficando embaralhada... Bem o cara no auditório explica que os seres humanos são a única espécie no planeta que tem que pagar para viver nele e, hã, há uma certa insanidade nisso, não é natural para nós, na verdade, trata-se provavelmente da forma mais eficaz de escravidão que já foi inventada, porque a energia de vida de um ser humano está ligada a trabalhar por algo que já é dele, desde o começo. Ai, ai, o cara do palco sumiu, posso voltar para “eles”? Vejo tudo nítido.

Eles fazem que sim com cabeças e gestos.

- O guerreiro está com eles. Parecem velhos conhecidos e discutem sobre o firmamento. Oh...é impressionante. Em termos técnicos, altamente técnicos, o firmamento vai desempenhar a função de transdução de oscilações de freqüência cristalina numa redução piezelétrica para interfacear a grade, permitindo assim total integração do sistema de circuitos elétricos das energias gama cristalinas do Campo Unificado de Tula, o Grande Sol Central.

Caramba, não acredito que eu disse isso.

O primeiro homem pede em termos mais palatáveis, eu me concentro na pergunta, de olhos fechados, e a resposta vem mais ou menos assim:
O firmamento vai transformar ondas de poderosa energia celeste numa forma benevolente que pode ser mais facilmente recebida no plano terreno.

Eles discutem, parecem aliviados.

A mulher torna perguntar da mulher assassinada e o dos dentes brancos pergunta se consigo saber para quem o guerreiro trabalha.

Respondi automaticamente (e fiquei surpreso com isso).

- Ele trabalha para o Universo e... Esperem, vocês não acreditam no que eu estou vendo agora, outro sujeito, e o guerreiro me explica que esse outro sujeito também trabalha para o Universo, uau, que incrível, parece um príncipe, um príncipe de um lugar muito distante, exótico, um lugar que não existe mais, está tocando violão e há um letreiro ao lado, indicando a data -1972, é um programa de TV e...e...ele está cantando, assim ó:

- “Dizem que parece o bonde do morro do Corcovado daqui só que não se pega e entra e senta e anda o trilho é feito um brilho que não tem fim, que não tem fim, oh menina, que não tem fim... Nunca se chega no Cristo concreto de matéria ou de qualquer coisa real, depois de 2001 e 2 e tempo a fora o Cristo é como quem foi visto subindo ao céu, subindo ao céu, num véu de nuvem brilhante subindo ao céu”.

- Putz! – fez a mulher – Espantoso! Isso é real?

Os homens de branco se encararam, de um jeito quiçá perplexo, murmurando algo como "tudo é real".

Foi a minha deixa. Levantei e parti.

- Ei, onde você vai? – perguntaram

- Ver outras coisas.



(Imagem: Louis Faurer, Nova Iorque, 1957)


(http://www.bernardgontier.com)
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 01/03/2021
Reeditado em 25/06/2021
Código do texto: T7196051
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.