As Fôrmas
Quando criança, nunca entendi bem o motivo para existir tantas fôrmas dentro do armário. Para cada tipo de receita, um modelo diferente. Sempre gostei mais quando elas estão cheias, com bolos, salgados ou pudins. O chato é lavar. Lembro que eu era a vítima preferida da minha irmã; quando era meu dia de lavar louça, ela nunca fazia questão de acabar com todo o bolo.
— Deixei pra você — afirmava sem ficar vermelha.
Dependendo da fôrma, ela era maior do que a pia! Espirrava água para todos os cantos. Lá vinha bronca:
— Tá lavando louça ou apagando um incêndio?
Depois ainda dizem que o é filho mais velho que sofre... Acho que em casa a regra foi diferente.
Depois de limpas, as fôrmas não respeitavam as ordens, e tão pouco, paravam quietas no escorredor de louça. Era hora de mudar a tática; deixava elas sobre a mesa até secar. A tarefa de guardar – pelo menos – não era responsabilidade minha.
Com as mãos ágeis, mamãe começava a batalha, retirando panelas, copos, potes e outras coisas do armário para guardar as fôrmas de maneira organizada. Acho que nessa hora, minha mãe também preferia ver elas com alguma receita dentro. Mas isso foi antes. Quando o fogão de seis bocas chegou em casa, foi a solução de todos os problemas. O forno grande, serviu de segundo armário. Só para guardar as fôrmas.
Isso irrita algumas pessoas, é verdade. Elas disparam xingamentos, como fosse mudar alguma coisa. No entanto, usar o forno como armário, é mais comum do que se pensa. Eu mesmo sou a favor. Tenho certeza que ali, as fôrmas se sentem em casa.
Adoramos quando as fôrmas estão cheias. Ficamos irritados quando elas estão sem nada dentro. É preciso ter calma. Existem muitas pessoas vazias por aí, que não agregam em nada. Elas também precisam, e tem, um lugar para ficar guardadas.