Do Valet à motocicleta

Esse era o nome do cavalo do meu pai: Valet. Um cavalo da raça manga-larga, de cor marrom claro, imponente e arisco. Quando montado nele meu pai ganhava outra fisionomia diante dos meus olhos ainda infantil carregado de imaginação. Talvez influenciado pelos filmes de faroeste americano que ele tanto assistia na tv e que acabava sendo meu momento de lazer ao lado dele. Ele também colecionava centenas de livros de bolsos de faroeste. Uma paixão literária secreta dele. Acho que o meu despertar pela leitura se deu em observar meu pai lendo. Acabei desenvolvendo a curiosidade de querer saber o que havia de tão atrativo no objeto livro. Me lembro de um comentário que meu pai havia feito desta sua paixão literária dos faroeste americanos: "não é a valentia e nem a matança que me atrai nestas estórias de faroestes, mas sim as solitárias viagens dos caubóis em seus cavalos e as descrições das paisagens geográficas nestes livros". Quando adolescente continuava assistir com meu pai os faroestes que passavam na tv e passei a apreciar as paisagens dos lugares e as solitárias viagens dos personagens deste gênero de filme. Quando adulto - meu pai já idoso - me viu em cima de uma motocicleta muito grande para minha estatura e fez o seguinte comentário: "você parece mais alto do que é montado nessa motocicleta". Eu respondi à ele: "era assim que eu via o senhor também quando montado em seu cavalo". O tempo havia colocado nos olhos idoso do meu pai uma fisionomia distorcida do meu corpo diante de um cavalo mecânico imponente e arisco que havia se tornado minha paixão: a motocicleta.

Wander Caires
Enviado por Wander Caires em 28/02/2021
Código do texto: T7195358
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