O NEGACIONISMO DA PANDEMIA E A PANDEMIA DOS NEGACIONISMOS

Negar a realidade é da natureza humana.

Claudio Chaves

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“EU QUERO deixar claro que não sou político, não trabalho com nenhum político e não sou filiado a nenhum partido político”.

SE VOCÊ costuma participar de alguma atividade pública que reúne pessoas em geral, certamente já ouviu, bem mais de uma vez, a frase acima pronunciada por alguns (ou até vários) palestrantes ao se apresentarem nalgum evento.

SE (O/A PALESTRANTE) for um(a) professor(a), então, parece que é lei apresentar esse tipo de “certidão de integridade”.

É COMO se a pessoa estivesse a declarar: “Não tenham medo de mim, nem me acusem pelo meu jeito de falar, minha aparência ou o assunto que vou abordar! Pode até parecer, mas não sou criminoso, não trabalho com nenhum e não faço parte de nenhuma organização criminosa”. Enfim, “sou um cidadão de bem”.

O TERMO negacionismo, relacionado especialmente à pandemia de covid-19, se tornou tão frequente no vocabulário mundial nos últimos meses que já é seríssimo candidato à palavra do ano ao fim de 2021. O que muitos não se atentam, porém, é que esse é apenas um dos tipos de negacionismo entre os tantos cultivados, desde as mais remotas eras, pela humanidade em geral.

NEGAR a realidade é da natureza humana. Aquela, pura e simplesmente, sempre foi algo insuportável a nossa espécie. Negá-la, portanto, ainda que muitas vezes parcialmente, sempre foi a alternativa preferida da humanidade para aliviar os seus tormentos ao encará-la.

UM DOS mais suntuosos e retumbantes símbolos universais do negacionismo como “carma” da humanidade – que, em geral passa despercebido – são as famosas pirâmides do Egito. As megaconstruções revelam, em primeiro plano, a cultura megalomaníaca de seus idealizadores, os faraós. Mas numa perspectiva holística, revelam bem mais. As pirâmides do Egito são a “encarnação” da negação da realidade fria, inconteste e insolúvel da morte, o fim da vida.

A ESSE tão natural tipo de negacionismo, seguem-se outros tantos – quer no mundo das superstições quer das religiões, das ciências e da política – que não seria exagero afirmar que antes do negacionismo da pandemia, já havia, há muito, a pandemia dos negacionismos.

TODO negacionismo, como já enunciado, tem sua taxa de letalidade. Uns mais perceptíveis, outros nem tanto; uns mais imediatos, outros a longo prazo...mas todos levam à morte, quando não literal, intelectual, crítica, cultural, social...todos são letais.

NO BRASIL, em especial, há um negacionismo que precede o pandêmico e é, em grande parte, responsável por este: o negacionismo político.

CERTAMENTE se os educadores brasileiros não fossem, em regra, tão adeptos do negacionismo político (de Política com P maiúsculo), seriam bem diferentes dos que estamos colhendo os resultados no enfrentamento do negacionismo pandêmico.

MAS, sinto informar, não havendo autocrítica e mudança de postura, o que já é intolerável, tende a piorar.