NASCIDA EM 8 DE MARÇO

Desde 8 de março de 1982 que comemoro essa data. Nascer no dia institucionalizado pela ONU como o de todas as mulheres do mundo, traz para mim uma responsabilidade que se enraizou em minha própria essência.

O fato é que não vim ao mundo a passeio. Filha negra no meio de duas irmãs brancas e de pais que se declaram pardos, já deixava explícito na minha pele que vim para desestruturar alguns preconceitos de uma família tradicionalmente cearense, onde bonito mesmo é ter olhos claros. Aprendi a me reafirmar a partir da própria infância, mas foi na adolescência que eu desfragmentei conceitos de muita gente em torno de mim.

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Com 14 anos já me sabia lésbica e aos 17 puxei minha mãe para uma conversa séria na sala de jantar, falar sobre minha homoafetividade e preparar o terreno para a causa que eu abraçaria tempos depois.

Na faculdade, envolvida em movimentos feministas e LGBTs, fui construindo minha própria fortaleza interior e entendendo meu chamado pessoal no mundo. Mas, somente aos 37 anos (depois de me desviar e muito do meu propósito) me descobri como portadora de uma das armas mais poderosas e eficazes que existe no mundo: o poder da escrita.

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Através de minhas palavras, inspirei novos caminhos para muitas leitoras que se achavam perdidas ou que temiam fazer escolhas decisivas que mudariam o curso de suas vidas. Algumas até já me narraram que eu devolvi suas forças com um texto curto de Instagram ou que se redescobriram com a verdade de alguns versos em minhas poesias.

Minha arte literária me fortalece, mas acima de tudo, empodera outras mulheres como eu, que podiam muito bem se resignarem a viver à margem, mas que se encontraram no centro de si mesmas. Pois o que enobrece o fato de eu ter nascido em um dia com tanto significado para nós mulheres, é a missão de ajudá-las a buscar a melhor versão de si mesmas.

Andréa Agnus
Enviado por Andréa Agnus em 28/02/2021
Reeditado em 13/06/2021
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