O DIÁRIO, DE PIRACICABA, SP

UM SONETO COMOVENTE DE MAURÍCIO MARZULLO

Nelson Marzullo Tangerini

A jornalista e poeta Marisa Fillet Bueloni, que escrevia para o extinto jornal piracicabano O Diário, tinha uma coluna chamada Prosa e Verso, onde publicava resenhas suas e poemas de diversos autores. Inclusive, sonetos e caricaturas de Nestor Tangerini (* Piracicaba,SP, 23 de julho de 1895; + Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 1966).

Certa vez, sem qualquer compromisso, enviei à colunista o soneto “Minha mãe”, de Maurício Marzullo, advogado e poeta, meu tio, em homenagem à sua mãe, a atriz Antônia Marzullo.

O referido soneto do Dr. Marzullo (1917 – 2008), reproduzido aqui, foi publicado no jornal citado, em 27.11.1999:

“MINHA MÃE

Quando, nostálgico, a rezar me ponho,

Elevando a Jesus a minha prece,

Como se fosse tudo um grande sonho,

A minha mãe querida me aparece.

E, ao vê-la tão divina, eu me transponho,

Da tristeza malsã, que me embrutece

O coração, para um viver risonho,

Que em seguida, porém, desaparece...

E as minhas orações tão comovidas

Transformam, por encanto, as nossas vidas

Numa existência bela, sacrossanta,

Pois que eu enquanto rezo me debruço

Ante teus pés, ó mãe, e num soluço,

Proclamo que sou filho duma santa!

O sr. Fernando César Pereira, leitor assíduo de O Diário, e da coluna literária, encantado com o soneto, escreveu uma carta para o periódico, pedindo que Marisa encaminhasse a Maurício a sua missiva:

“Piracicaba, 30 de novembro de 1999

Caro Marzullo,

Venho por meio desta para tomar um pouquinho de sua atenção e seu tempo.

Não se admire, é a primeira vez, nos meus sessenta, que escrevo a um poeta.

Mamãe faleceu há pouco tempo e a figura dela é impossível sair da minha memória.

Não pude conter o contentamento, de manifestar-lhe comovido a minha emoção em ler seu soneto de sábado último (27/11) na página de poesia. Formidável!!!

Que o Senhor Jesus lhe cubra de bênçãos no novo século que inicia no próximo mês.

De seu leitor, Fernando”.

A carta do sr. Fernando (manuscrita) foi encaminhada, pela jornalista, à minha residência, e, logo, com rapidez, foi repassada a meu tio, que, com sua habitual gentileza, escreveu para seu leitor, agradecendo-lhe pelas palavras comoventes.

Também comovido, acabei por escrever esta crônica, engavetada há tanto tempo.

É sempre bom saber que um soneto, para muitos, uma forma “passadista” de escrever, pode comover um leitor sensível no final do século 20.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 28/02/2021
Reeditado em 28/02/2021
Código do texto: T7195033
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