CAPITÃO MÓR AGUIAR, ESQUINA MARQUES DE SÃO VICENTE

CAPITÃO MÓR AGUIAR, ESQUINA MARQUES DE SÃO VICENTE

Meu pai havia adquirido o armazém “Ao Barateiro” do Sr. Abel Zeitoune, na esquina da Avenida Capitão Mór Aguiar com a Rua Marques de São Vicente, em 1962. O imóvel era um sobrado, na frente ficava o armazém e atrás era uma boa casa com dois quartos, sala, cozinha, banheiro, um pequeno quintal e uma garagem que servia de depósito dos produtos. Havia um portão ao fundo no lado da Mór Aguiar para acesso dos moradores. E minha família foi morar lá. Após nossa casa, na Mór Aguiar haviam três sobrados conjugados. Imediatamente aos fundos, no primeiro sobrado, morava a família carioca do Sr. João Chrisostomo, que trabalhava na Fronape como Imediato, um cargo importante. No sobrado do meio morava o Wilson Canalonga, renomado alfaiate, exclusivo dos jogadores do Santos Futebol Clube e da elite de Santos e São Vicente, casado com Éster, filha do Pastor Brígido, o casal tinha dois filhos. O terceiro sobrado era do Major Eduardo Falcão e de sua esposa Landa, gaúcha de boa cepa, com o filho Eduardo (Duda), as filhas Ingrid (“Guiga), Cristina e Rogério, na época um bebê. Anos depois, em 1967, nasceria o Charlinho, hoje diretor de teatro e criador de grandes musicais, de nome artístico Charles Möeller. O armazém tinha um triciclo com carroceria para fazer as entregas das compras. Foi uma mudança em nossa vida, pois passamos a ser vistos como sendo a família da “venda do seu Miorim”. Era uma época que havia fregueses de caderneta. A pessoa escolhia o que precisava e a gente anotava na caderneta. Final do mês, meu pai somava o valor que o freguês comprara e apresentava “a conta” para o cliente. Lembro de alguns acontecimentos interessantes. As famílias faziam compras para o mês inteiro, o que me obrigava a entregar em domicílios. Colocava as compras no triciclo e pedalava por S. Vicente levando os produtos adquiridos. Em uma das entregas, havia na casa uma ninhada de cães da raça Tenerife, uma espécie de Bichon-Frizé. Eram pequenas bolas de pêlos e o dona da casa me deu um de presente. Escolhi o mais lindo, coloquei no triciclo e levei para casa. Fiapo foi um dos mais queridos cachorros que tive. Só latia furiosamente quando alguém saia de casa, os estranhos podiam entrar sem problema.

Meu pai fechou um contrato de representante da Kibon (Sorvex Kibon, era o nome fantasia), e instalou um grande frízer no armazém. Passei a comer muito sorvete e meu pai teve prejuízo, acabando por desfazer a parceria. Mas foi muito bom enquanto durou. Chegava do treino de natação, almoçava e a sobremesa era um “tijolo” Kibon. Era Chica Bon o dia todo.

Eu precisava fazer cursinho vestibular para engenharia, pois o meu modelo era meu tio Leonel, engenheiro civil. Cursar escola paga era um tabu em casa, todos criticavam o Ateneu São Vicente por sua qualidade de ensino. Falei com meu pai sobre o assunto. A princípio ele não concordou, mas após uma longa negociação acordamos que ele pagaria o cursinho, mas eu teria que abrir a venda todos os dias às sete horas da manhã. Cada um cumpriu seu compromisso e entrei no curso Engo, que ficava no início Av. Ana Costa 32, próximo ao centro de Santos. Como as memórias importantes ficam em nossa mente, lembro do número do Engo sem consultar Google Maps! Junto ao Engo e do mesmo proprietário, Jorge Carlos Nóbrega, havia o Curso Med-On destinado aos pretendentes a cursar Medicina ou Odontologia.

Matriculei-me a tarde, minhas aulas começavam às quatorze horas e se estendiam até às 18 horas. Saia do Engo, eu e meu amigo Satoru Kubo, que morava em Cubatão, íamos a pé ao Colégio Canadá, conversando. Satoru era inteligente e a conversa fluía bem.

Essa experiência de abrir o armazém todos os dias, embora um pouco sacrificada por chegar do Canadá depois de meia noite e acordar às seis para cumprir o trato com meu pai revelou-se gratificante.

Depois conto mais. Paulo Miorim 28/02/2021

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 28/02/2021
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